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domingo, 31 de janeiro de 2010

Capítulo XXVII ♥ ♠ Do Lado de Dentro ♣ ♦


Emily espiou através da extensão do jardim, e seguindo com olhar, acabou por ver uma belíssima fonte de mármore em frente á porta da mansão.
- Natalie, vamos... Ali na fonte você apaga a ponta do charuto, mas com muito cuidado, porque quanto você menos molhar, melhor para nós – disse, apoiada ao ombro de Bill.
Os jovens começaram a andar. Amy passou a lanterna para Bill, que lhe servia de suporte enquanto ela guiava, os outros dois iam logo atrás, seguindo a luz.
A relva de estranhos arbustos, em contraparte ás duas luas vermelhas, formava medonhos desenhos de mãos no chão de pedras no qual caminhavam.
Natalie olhava as sombras com olhos assustados, e ás vezes soltava um gemido estranho, sentindo como se as mãos estivessem esticando e retorcendo para agarrá-la.
Apesar de estarem andando na direção da fonte, parecia que a mesma estava cada vez mais e mais distante. Emily já começava a sentir uma fria agonia na ponta de seu estômago no desespero de alcançar o ornamento de mármore.
Distante...
Começaram a apressar o passo. Natalie olhava para trás e via as mãos que vinham em sua direção e seu desespero aumentava gradativamente, até que ela não se conteve e soltou um grito de pavor.
Naquele momento começaram a correr. A fonte começou a se aproximar, e logo estavam de cara com ela.
- O que foi aquilo? – David indagou com a voz assustada.
- Esse lugar me dá nos nervos! – Amy observou, em meio a um gemido de dor.
- Você está bem? – Bill questionou, recebendo um aceno positivo com a cabeça da garota.
Lenta e cuidadosamente Natalie apagou o charuto encostando levemente sua ponta na água da fonte.
- Pronto, agora podemos entrar! – disse.
Ela colocou o fumo apagado em um largo bolso que havia na calça de David. Após fazer isso, seguiram até a grande porta feita de madeira. Emily estendeu sua mão até a dourada e enfeitada maçaneta e a girou lentamente, para que não fizesse barulho ao abrir, mas isso foi inevitável.
Após um metálico som de destrave, Amy empurrou a madeira vagarosamente, o que fez com que a porta se abrisse em um fino grunhido. Estava tudo escuro lá dentro, o que fez com que Bill apontasse a lanterna para o interior da mansão da Duquesa.
Havia pedaços de vidro por toda extensão do assoalho bege. Estava tudo bagunçado. Os sofás de cor marrom estavam todos rasgados, as cadeiras jogadas, flores murchas pelo chão. O papel de parede com a estampa de rostos com a face contorcida em grito que repetiam pela extensão da sala, estava rasgado em partes, os detalhes de madeira das paredes estavam todos descascados e com aparência velha. O lustre de ouro e cristais estava caído perto da lareira apagada, e uma bela escada espiral de mármore se encontrava no canto direito do ambiente.
- O que houve por aqui? – Natalie perguntou aos cochichos.
- Vocês estão sentindo esse cheiro? – Emily falou, fungando o ar.
Bill olhou para ela também cheirado o ambiente até que enfim disse:
- Sim... Parece pimenta!
- Vamos dar logo o fora daqui antes que a gente encontre a pessoa, ou a coisa, que deixou isso aqui como está! – Amy proferiu.
Atravessavam a extensão da sala de ponta de pés, com muito cuidado para que não fizessem barulho com os cacos e os outros diversos objetos pelo chão.
De repente, o coração de Emily congelou. Um gélido arrepio subiu sua espinha com um estranho ronco que veio do segundo andar.
- O que foi...? – ciciou.
David colocou o dedo indicador levantado sobre seus lábios em sinal de silêncio para a garota. Outro ronco cortou o silêncio do local.
- Credo! Parece um porco sendo abatido! – Natalie exclamou com um tom de voz tão baixo que quase não fora ouvida por seus colegas.
Atravessaram o recinto chegando a uma porta do outro lado. Novamente Emily girou a maçaneta com cuidado e empurrou a madeira fazendo com que um longo corredor fosse visto.
No corredor, a luz avermelhada de fora e a lanterna iluminavam seu final, onde havia outra porta. O chão era forrado com um tapete rubro, e o papel de parede com desenhos surreais que lembravam porcos estava sujo. Havia pedaços de velas quebradas e cacos de vidro por toda parte.
Amy cutucou Bill, que olhou para ela imediatamente. A garota falava tão baixo que ele apenas entendeu o que ela quis dizer pela movimentação de seus lábios.
- Ilumina a parede... Será que essa mancha é sangue?
O garoto fez um sinal positivo com a cabeça e ainda ajudando Amy, foi até a sujeira da quadrela, iluminando-a.
- Não, não parece ser sangue. Está com cara e cheiro de terra – disse.
Ela concordou com a cabeça.
- Não quero nem saber como essa terra foi parar aí – Natalie admirou-se.
- Vamos logo gente! Não temos tempo para isso! – David apressou.
- É, você tem razão – Emily admitiu, fazendo um sinal para que Bill começasse a andar até o fim do corredor.
Mais uma vez, Amy estendeu o braço e girou a maçaneta, abrindo cuidadosamente a porta.
Um terrível cheiro de podridão invadiu suas narinas. Todos os quatro jovens fizeram uma careta de nojo. Bill iluminou o local, exibindo uma cozinha com toda a extensão de chão e paredes cobertos por lajes frias e brancas.
Logo começaram a adentrar o local, e viram o que proferia tão terrível cheiro: Havia manchas de sangue por todo o local, e em cima da mesa feita de mármore branco, havia algo que fez com que Natalie abafasse um berro de pavor, caindo no choro. Um estranho sentimento de repulsão e náusea tomou o corpo dos garotos.
Havia um bebê recém nascido morto em cima da mesa.



..::Continua::..

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Capítulo XXVI ♥ ♠ Humpty Dumpty ♣ ♦



Emily estava de passos tão apressados guiando o grupo com a lanterna que já quase corria. Natalie e David acompanhavam com dificuldade, enquanto Bill seguia sem maiores problemas.
As árvores foram se tornando menos densas e com maior espaço entre uma e outra, até que estivessem em um campo aberto. Era possível escutar o som de água corrente por perto.
Apesar da pouca luz, era possível enxergar ao longe, entre um rio corrente, uma grande mansão, com um imenso jardim e um pequeno dique.
- Essa deve ser a casa da Duquesa – Bill disse.
- É. Não temos tempo a perder! – Emily exclamou, andando apressadamente.
- Nossa. O duro é que não vai dar mesmo para atravessar pelo lado – Natalie reclamou.
Após algum tempo andando, logo se viram em frente á um alto portão de barras douradas.
- Está aberto? – David indagou.
- Com certeza não – Emily falou, apertando um cadeado do tamanho de uma maçã com sua mão direita. – Teremos que pular.
Andaram um pouco, seguindo a extensão do portão até chegar a um alto muro coberto por hera.
- Podemos usar a planta para subir – Amy sugeriu.
Todos confirmaram com a cabeça, Natalie respirou fundo e começaram a subir, agarrando os ramos do vegetal até que chegassem ao topo. O coração de todos os quatro jovens palpitava gélido com o medo da descida.
Sem deixarem-se afobar, foram descendo com a mesma calma da subida, usando a hera como escada. David e Bill estavam lá embaixo, ajudando Natalie enquanto Emily encontrava-se pouco abaixo da metade do muro.
De repente a garota se soltou, caindo direto ao chão, que por sorte era de terra, recoberto por uma macia grama.
- Ai! – gemeu.
Os outros correram em sua direção para acudir.
- Você está bem? – Bill questionou.
- Eu estou, mas acho que torci feio o meu pé! – Emily disse, soluçando de dor.
Ela olhou para seu corpo, ainda deitada, movimentando lentamente o pescoço. Pôde ver uma queimadura em sua mão. Tentou mover o pé, mas parou por causa da imensa dor.
Emily foi levantando o olhar até que viu, por causa da lanterna caída na grama, o autor de sua queda.
- Humpty Dumpty sentou-se no muro, Humpty Dumpty levou um grande tombo, todos os cavalos do rei e todos os homens do rei, não conseguiram montar Humpty Dumpty nunca mais – a criatura cantava.
Um homem com formato de ovo, com duas finas pernas e dois finos braços com longos dedos que seguravam um charuto aceso, cantava sentado no topo do muro.
- Parece que dessa vez não fui eu quem caiu! – disse, com os olhos em brasa.
- Porque você fez isso? – Emily questionou, com a voz chorosa, porém ainda firme.
- Porque eu fiz o que? Você deve ser mais específica, menina – ele disse, fazendo um movimento com o dedo indicador que fez com que cinzas se desprendessem de seu fumo, provavelmente como ele fez para derrubar Amy.
Humpty Dumpty levou o charuto á sua enorme boca e deu uma tragada, logo depois expelindo a fumaça na direção dos jovens, que tossiam.
- Bom, agora irei gritar e berrar até acordar a duquesa! Minhas ordens são as de não deixar ninguém entrar, e vigiar o jardim durante a noite – ele disse.
- Por favor, não faça isso! – Emily suplicou enquanto David e Bill tentavam levanta-la apoiando os braços da garota envoltos em seus ombros.
- Bom, tudo tem seu preço – Humpty Dumpty disse. – O que vocês têm a oferecer?
- Não temos nada aqui conosco, mas podemos voltar trazendo algo que queira – Bill falou em tentativa de barganha.
A criatura abriu a boca, puxando o ar, retesando-se a berrar, quando de repente, Natalie deu um leve assovio, chamando a atenção de todos.
- Nós temos isso! – ela declarou, arremessando uma pesada pedra do tamanho de um sapato.
A garota errou, mas foi o suficiente para que Humpty Dumpty perdesse o equilíbrio e caísse, despedaçando-se no chão. Emily respirou aliviada olhando para a outra garota.
- Vamos – David disse, começando a andar na direção da casa.
- Não! Ainda não! – Amy exclamou. – Me leve até o ovo. Preciso ver uma coisa.
Os dois garotos começaram a levar ela até onde a criatura caíra, onde a grama estava repleta de cascas, pele e sangue. Com a lanterna, Emily começou a vasculhar em volta daquela sujeira toda, com uma careta enojada por causa das entranhas no chão.
Pouco longe dali, viu o que estava procurando.
- Ei, Natalie, me ajude! – falou.
A garota se aproximou, segurando seu nariz com o dedo indicador atado ao polegar por causa do horrível fedor daquele local.
- Pega o charuto ali na grama e traga para eu ver – mandou.
Natalie assim o fez, pegando o objeto iluminado pela lanterna na grama, e logo em seguida levando ele até Emily.
- Como eu desconfiava! – a garota exclamou. – É o igual ao que demos para a lagarta! Acho que conseguiremos fazer mais umas duas perguntas por esse aqui!



..::Continua::..

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Capítulo XXV ♥ ♠ A Confusão na Cabeça da Menina ♣ ♦


- Você disse que seu nome era Alice quando perguntamos – David disse.
- Não! Eu disse Emily alto e claro! – ela protestou.
“Como Alice encontrou um jeito de nos chamar, se nós somos fragmentos dela?” A garota se questionou naquele momento. “Tudo é tão confuso!” Falou para si mesma, lembrando de um trecho do conto onde Alice dizia: “Pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então.”, era como Amy se sentia naquele momento. Sua vida era regular, fácil de entender, mas tudo mudara tanto desde que entrou pela toca do coelho branco, que ela julgava nem saber mais das coisas.
Natalie e Bill olhavam assustados para o modo que Emily encarava o garoto, que já estava sentando em um tronco massageando o pé. A verdade é que ela estava raciocinando, maquinando uma teoria que respondesse aquela pergunta.
- Precisamos ir logo encontrar seus amigos – a outra garota arriscou pronunciar, porém nem fora ouvida, abafada por ondas de pensamentos.
“O país das maravilhas foi sonhado e desenhado por Alice, então ele faz parte dela, faz parte do que a personagem é. Talvez isso fez com que os fragmentos de Alice fossem rastreados e sintonizados para formar esse todo novamente.” Deduzia. “E tudo isso só foi possível com a tal materialização do país das maravilhas que a lagarta citou.” Emily começou a balançar a cabeça negativamente. “Nada disso faz muito sentido, e ao mesmo tempo faz todo sentido, que nem física. Nós não vemos a lógica das fórmulas com facilidade, mas sabemos que ela funciona.”
- Alice? Alice? Alice, acorda! – Natalie gritou.
- Eu já disse que meu nome é Emily! – a garota falou, alterada.
- Pra mim parece a mesma coisa! – a outra devolveu.
- Alice e Alice, será que não há diferença? – de repente Amy congelou, prestando atenção ao que acabara de dizer. - “Eu não posso explicar-me, eu receio, Senhora”, respondeu Alice, “porque eu não sou eu mesma, vê?”.
- Eu não vejo. – Natalie devolveu, sem entender direito a confusão. – Mas como seria seu nome?
- Emily.
- Emily.
- E alguns me chamam de Amy – adicionou.
David levantou-se.
- Isso foi muito estranho! – proferiu.
- “Eu receio que não posso colocar isso mais claramente, porque eu mesma não consigo entender, para começo de conversa, e ter tantos tamanhos diferentes em um dia é muito confuso.”.
- Credo, você por algum acaso decorou o livro? – Bill indagou.
- Apenas os trechos mais importantes. Eu li algumas vezes quando era criança, mas desde que entrei pela primeira vez aqui, eu, Jeanine e Edgard começamos a estudar sobre o conto. Algumas partes, como a conversa de Alice com a lagarta, por exemplo, ficaram gravadas em minha mente – contou.
- Ah, eu até li uma vez, mas nem cheguei a decorar nada – Natalie admitiu.
- Espera um pouco, o que o gato disse para vocês, quando entraram pela primeira vez? – Emily questionou.
- Que eu devia descobrir o que estava acontecendo e alguma coisa sobre Alice descobrir como chamar pessoas para seus sonhos – a garota contou.
- É, para nós também – Bill completou, apontando o indicador para ele e para David simultaneamente.
- E vocês nem se importaram em estudar e tentar desvendar o que está acontecendo? – Amy perguntou, já temendo a resposta.
Foi pior que ela imaginara: Os três nem conseguiram dizer que não, apenas gaguejaram algumas palavras que tentavam explicar porque não haviam feito o mesmo que os outros quatro.
- Mais converso com vocês, mais decepcionada eu fico – bronqueou. – Vamos voltar a andar até a mansão da duquesa!
David levantou-se e todos voltaram a seguir ela. Ao meio do farfalhar de passos, Emily escutou algo desagradável, mas fingiu que nada ouvira para que não se exaltasse.
- Ainda bem que você não contou que trouxe seu namorado aqui – Bill cochichou para Natalie.



..::Continua::..

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Capítulo XXIV ♥ ♠ Pela Floresta ♣ ♦

Emily e os outros três aceleraram o passo na direção apontada pelo gato sorridente. A lanterna estava com a luz fraquejando cada vez mais, e iluminava apenas um pequeno trecho á frente deles.
- Esperem um pouco. Vou ver o que está acontecendo com essa lanterna – a garota falou, abaixando a luz, girando uma de suas roscas na tentativa de concertá-la.
Após alguns segundos mexendo no objeto, Emily levantou seu rosto sorridente dizendo:
- Consegui!
Ela estava levantando a lanterna pronta para apontar novamente ao caminho quando Natalie agarrou sua mão repentinamente e desligou o objeto.
- Emily, eles estão aqui, escuta – ela cochichou.
A jovem ficou em silencio por alguns momentos sem se mover e escutou o farfalhar de passos logo á frente.
Vagarosamente a garota fez um sinal, que apenas foi visto por causa da fraca luz emitida pelas luas vermelhas, para que a seguissem. Andavam lentamente tentando evitar folhas e galhos. O som das folhas estava ficando cada vez mais longe.
- O que vamos fazer agora? – Emily perguntou, com o tom mais baixo de voz que pôde.
- Podemos tentar dar a volta – David sugeriu.
- É. Vamos.
Estavam contornando o som dos passos sem ligar a lanterna, quando de repente, ouviram uma voz atrás de si, o que fez com que Natalie abafasse um grito de susto.
- Parece que temos uma empreitada aqui! – o gato disse, em cima de uma das árvores.
- O que é que nos vamos fazer agora? – Emily indagou.
O gato debruçou-se sobre o galho e pulou no chão, caindo de pé.
- Não tem outra saída, vocês terão que passar pela mansão da Duquesa. – a animal contou.
- Então vamos... – Natalie pronunciou.
- Não é tão simples assim enamorada – o felino protestou –, a duquesa está muito pior que o chapeleiro maluco e a lebre de março.
Os jovens trocaram olhares.
- Como assim? – Amy questionou.
- Ela deve estar dormindo agora, eu recomendo que vocês passem pela mansão no máximo de silêncio que puderem, pois se vocês se depararem com ela, ela certamente os devoraria – explicou. – Ela vê todas as pessoas como porcos para a ceia! Ainda mais humanos...
Um arrepio cortou a espinha de Emily. Bill fez um estranho barulho medroso.
- Não há outra saída – o gato disse, sério. – Eles empreitaram vocês. Somente não acordem a Duquesa nem a Madame Pimenta.
O felino começou a apontar para uma direção com a unha na ponta de sua pata brilhando dourada, e assim seu corpo começou a desaparecer até ela.
- Vamos! – Amy disse firmemente.
Ela reascendeu a lanterna e os quatro apressaram seus passos na direção apontada. Um pouco mais rápido que andassem, estariam correndo.
- Estou com medo! – Natalie admitiu para Bill.
- Não se preocupe, essa menina sabe o que faz – ele afirmou, olhando para Emily.
- Será que não podemos passar do lado da mansão da Duquesa? – Bill indagou em voz alta.
- Pelo que o gato falou, creio que não – Emily disse.
De repente David soltou um gemido dolorido e começa a mancar.
- Ei, ei, Alice, espera um pouco! Espera aí que tropecei em uma pedra – reclamou.
Amy parou de andar e olhou diretamente ao garoto.
- Do que você me chamou? – questionou.




♥ ♠ Continua ♣ ♦

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Capítulo XXIII ♥ ♠ A Fuga ♣ ♦


- Como descobriram meu plano do chá e o que mais sabem? – a megera conseguiu gritar entre tossidas.
O coração de Emily parara naquele momento. Apenas lá ela percebera o motivo do coelho ter-los buscado um a um, e apenas lá ela entendera o recado que Robert passara sobre correr na floresta escura.
Estavam presos no País das Maravilhas. Por isso o caçapo pálido de colete os havia procurado pessoalmente, para garantir que não levassem o objeto de transporte, e olhando para os outros, Amy notou que nenhum deles o estava carregando.
- VAMOS! DIGAM COMO DESCOBRIRAM MEU PLANO DO CHÁ ENVENENADO E O QUE MAIS SABEM? – a rainha tornou a vociferar.
Emily levantou-se da cadeira e debruçou suas duas mãos na mesa.
- Você não está aqui para saber por que o seu País das Maravilhas nos invocou! Você só sabe que as coisas começaram a ficar terrivelmente ruins antes de virmos para cá e está tentando se livrar de nós como se fossemos culpados sobre isso! – proferiu, em tom firme. – Mas devo dizer a você, que pelo que me foi passado quando entrei a primeira vez em seu mundo, é que ele já estava em decadência, aliás, quando logo bem entrei, ele não parecia um lindo conto de fadas!
O rosto da Rainha Vermelha tornou-se vermelho vivo. Seus pequenos olhos se entrefecharam em raiva e seu queixo tremia.
- Ora temos uma pequena insolente aqui! – a rainha levantou-se, da cadeira lentamente, proferindo um olhar de ódio para Emily. – CORTEM-LHE A CABEÇA! – ordenou, apontando a garota em pé, com o dedo indicador. – CORTEM-LHES A CABEÇA! TODOS ELES!
O coração de Edgard pareceu gelar com essa frase lembrando seu sonho, mas por estranho que parecesse aquele momento, aquele não era o tom que expressava durante o pesadelo.
Debaixo da mesma sombra da qual a rainha surgira, surdiram dez cartas de baralho do exército real, todos carregando conssigo afiadas e longas lanças. As cartas começaram a correr na direção da mesa de chá ao mesmo tempo em que os jovens se levantaram e fugiram entre as árvores, sem cessar a corrida por longos minutos.
Galhos passavam pela visão de Emily e por três vezes ela olhou para trás para ver se todos haviam escapado com vida, mas apenas conseguia ver três silhuetas humanas na escuridão.
Mais alguns minutos correndo pela floresta e escutou uma voz feminina atrás de si dizendo:
- Calma, calma! Ei, pode parar! Eles já não estão mais atrás de nós!
Amy retirou a pequena lanterna de seu bolso e iluminou atrás de si. Viu os três outros jovens que apareceram junto com o coelho branco, colocando os braços sobre seus olhos semi-fechados por causa da luz emitida pelo objeto.
- Oi, eu sou Natalie. Esses são Bill e David – disse apontando primeiro ao garoto loiro e depois ao garoto de cabelos negros. – Como é seu nome?
- Eu sou Emily – a garota contou, com a respiração ofegante. – Onde está o resto?
- Acho que foram em outra direção enquanto fugimos – Bill falou.
O coração de Amy encheu-se de preocupação.
- O que vamos fazer agora? – Natalie indagou.
- Eu não sei... Eu não sei... – a jovem respondeu, erguendo suas mãos em dúvida e logo em seguida, descendo-as aos quadris. – Acho que a gente devia continuar andando, para garantir que as cartas não nos alcancem.
Eles se aproximaram, andando juntos, seguindo o caminho que ditava a luz da lanterna. Caminhavam já a alguns minutos em silêncio quando Amy puxou conversa.
- Tenho algumas perguntas para fazer – Emily começou. – Como vocês fizeram para seguir o coelho até a mesa de chá sem lanternas?
- O coelho foi guiando a gente pelo som, sem falar que os olhos dele estavam meio que brilhando... – David explicou.
- Já se conheciam antes? – a garota questionou.
- Eu e David moramos na mesma rua. Conhecemos a Natalie no caminho para o chá. E vocês? Se conheciam antes? – Bill contou.
- Sim. A gente foi se encontrando ao acaso. Eu já conhecida Edgard, pois estamos na mesma classe, e quando ele viu meu espelho, ele me apresentou para Jeanine, irmã dele, que também tinha um.
- Jeanine é qual daquelas duas que estavam na mesa do chá? – a outra jovem perguntou.
- A que tem os cabelos mais escuros, que estava com eles soltos. Depois, o Edgard entrou no país das maravilhas e ganhou em espelho também – continuou. – A Carol nós encontramos na escola, vendo que ela tinha a marca.
Os três pararam de andar. Amy seguiu mais alguns passos, distraída, até ver que havia um gato cinzento e triste sendo iluminado no meio do caminho.
- Gato? – ela indagou, surpresa com a aparência do animal.
- Emily, Jeanine me pediu para entregar um recado á você – a garota fez um aceno com a cabeça, mostrando ao gato que estava escutando o que tinha a dizer. – Ela disse que estão todos bem, e que ela sabe como sair daqui. Falou para você rumasse á casa do coelho branco, que lá ela vai explicar o que pensou.
- Certo. Vou para lá. Mas gato, o que aconteceu com você?
- Tudo no País das Maravilhas está decaindo, mas parece que ao invés de ficar agressivo, e começar a trabalhar para a Rainha Vermelha, fiquei desse jeito – o animal explicou. – Agora vá! Siga aquela direção – apontou com o indicador um caminho entre as árvores – e direi a seus amigos que você está bem.
O felino deu um breve sorriso, que mais parecia uma consolação, e desapareceu logo em seguida.




♥ ♠ Continua ♣ ♦

domingo, 3 de janeiro de 2010

Capítulo XXII ..::Os Outros e a Rainha::..



- Não fale asneiras! – a lebre disse – A rainha não está em leito de morte, pode ser apenas uma doença passageira! Uma simples tosse seca de verão!
O chapeleiro pareceu irritar com o tom desdenhoso na voz do animal.
- Do jeito que está o novo País das Maravilhas? Duvido muito que essa simples tosse seca de verão da rainha venha a melhorar! Nem com chá de eucalipto! – o homem de cartola falou, rindo histericamente.
- Eles não parecem estar normais! – Jeanine cochichou para Emily.
- Eu sei – a amiga respondeu, no mesmo tom baixo.
- Estou com medo, muito medo – a garota admitiu.
Um dos bules – o maior deles no centro da mesa – começou a tremer, tilintando a porcelana num som agudo. Logo, a tampa do mesmo pulou, caindo em um prato com estranhos biscoitos roxos. De dentro do objeto saiu um gordo camundongo marrom, de olhar modorrento.
- Os nossos convidados já chegaram? – ele perguntou aos outros dois.
- Sim! – o chapeleiro respondeu, apontando o indicador aos jovens. O camundongo seguiu a direção mostrada com os olhos.
- E a rainha? Já chegou?
- Não! Não! Não! – a lebre gritou. – Mas o coelho acabou de chegar com a segunda remessa! – contou, olhando para a entrada de árvores do mesmo caminho pelo qual os outros garotos vieram.
Primeiro veio o coelho branco, saltitando até a mesa, parando ao lado de Carol. Depois, entrou um rapaz cabisbaixo, aparentando mais ou menos a mesma idade do resto, seguido por uma menina muito bonita, de cabelos negros encaracolados e pele branca. Logo em seguida entrou outro garoto, este era loiro, ao contrário dos jovens anteriores.
Esperavam que a garotinha que Caroline vira também entrasse seguindo o animal de colete rubro, mas não havia mais ninguém atrás destes, o que os deixou surpresos.
- O que há de errado? Porque estão com essa cara de surpresos? – uma firme voz feminina disse.
Das sombras de uma figueira, surgiu a rainha, a mesma que Edgard havia visto em suas desventuras anteriores, mas ele estranhou a aparência da dama, que antes demonstrava soberania e que agora era apenas vistosa em vestes, pois seu rosto estava apagado e seu olhar já não parecia mais amedrontador como antes.
- O que vocês sabem que não sei? – a Rainha demandou aos quatro que estavam sentados.
- Ficamos surpresos de existirem mais pessoas que entram pelo País das Maravilhas, alteza – Emily respondeu tentando ser o mais educada o possível com a mulher.
Os três outros fragmentos estavam em pé, ao lado da longa mesa de chá. A soberana do brio carmesim disparou um ímpeto olhar rancoroso a eles, e bradou com ira:
- O que há de errado com vocês?! Sentem-se! Rápido! – disparou, logo em seguida começando a tossir secamente.
Os jovens apressaram-se a sentar-se à mesa de chá, com assustados olhos de íris rubicundas.
Após o término do ataque da Rainha, ela tornou a falar:
- Algo está acontecendo com meu país! Eu gostaria muito de descobrir o que, mas não posso! O que sei é que o País das Maravilhas invocou vocês por algum motivo, e lhes deu um meio de entrar e sair, todavia, toda vez que isso acontece, meu reino e minha saúde definham! Não gosto de intrusos em meu reino, porém estou aqui para aprender com vocês e quero... – mais uma vez a mulher fora interrompida por ataques de tosse. Ela somente pôde continuar assim que os mesmos haviam encerrado. – Quero saber o que lhes foi designado! Quero saber por que foram chamados!
A rainha voltou a tossir, enchendo a palma de sua mão com sangue.
A garota que acabara de vir junto ao coelho estava aproximando uma xícara a seus lábios, pronta para provar do chá, quando Emily lhe fez um rápido sinal negativo com a cabeça.
- O que vocês sabem que não sei? – a Rainha de Copas indagou, intrigada.



..::Continua::..

Capítulo XXI ..::O Chapeleiro Insano e a Lebre Lúgubre::..



Já haviam passado por cinco portas e o coelho estava a abrir mais uma. As duas primeiras foram as mais demoradas, para o resto, o animal retirou do bolso de seu colete vermelho, um relógio de bolso antigo, cujos ponteiros possuíam formato de chave e com estes abria as trancas.
A última, ao ser aberta, fez os jovens adentrarem um local úmido. Com o mirar rápido das lanternas, puderam ver que adentravam um escuro e denso gramado. Logo passaram a avistar árvores. Emily olhava curiosa para o céu, onde duas estranhas luas rubras brilhavam sem tanto iluminar.
Jeanine olhou para trás e viu que todos haviam saído por uma porta de um tronco oco de uma figueira.
Enquanto observava o alto, sentiu um leve toque gelado de algodão em sua bochecha.
- Está nevando? – Carol indagou.
- Creio que sim – Edgard afirmou.
- Vamos, depressa! Senão chegaremos atrasados! Eu ainda preciso buscar os outros! – o coelho apressou, dando saltos maiores pelo caminho de terra.
Havia placas por toda parte, mas nenhuma delas parecia apontar para algo. Suas setas indicavam diversas direções e não possuíam nome algum.
O coelho adentrou um clarão em meio ao copado de árvores, onde uma grande mesa estava preparada com uma bela toalha dourada e um belíssimo conjunto de xícaras, bules e pratos de porcelana. As cadeiras ao redor da mesa eram diferentes entre si, cada uma mais bela que outra.
Apesar da escuridão do caminho, aquele ponto estava bem iluminado por estranhas luzes que saíam do interior das frutas penduradas nas árvores e arbustos ao redor do local. Um homem com roupas antigas e uma longa cartola preto-esverdeada tomava chá, enfadonho, ao lado de uma lebre cinzenta.
O coelho voltou para a escuridão, pulando novamente para o caminho de onde vieram.
Os jovens se aproximaram das duas figuras sombrias. Emily tomou a frente.
- Olá, com licença, podemos nos sentar? – interpelou á dupla.
- Não! – o chapeleiro berrou, fazendo Jeanine gritar de susto, se escondendo nas costas de Edgard. – NÃO! Não há lugar!
- É – a lebre concordou. – Não há lugar, nenhum lugar!
- Mas as cadeiras estão desocupadas! – a garota tornou a expor.
- SE VOCÊS NÃO VIERAM PARA O CHÁ DA RAINHA, NÃO HÁ LUGAR! – o homem vociferou.
- Mas viemos ao chá da rainha – Amy tornou a dialogar, com a voz trêmula de pavor.
- Então somos obrigados a ceder! Maldita! – o chapeleiro quadrou, com um tom de voz pouco mais calmo, porém ainda falando entre dentes, aos cuspes.
Os jovens foram se sentando um a um. Entreolharam-se lembrando um ao outro para que nada bebessem. Todos sentiam um estranho frio no estômago de pavor.
- Eu, se fosse vocês, pararia de vir aqui! – A lebre disse, assustando a todos com o bater de seu punho sobre a mesa. – Este lugar inteiro está decaindo! Eu gostaria de tentar abrir alguém, e rechear com a melhor manteiga para ver de tudo volta a funcionar como antes!
- Mas veja lebre de março, que meu relógio não está direito! – o chapeleiro contou, consultando o objeto enquanto tomava um gole de chá.
- É porque havia migalhas de pão! – a lebre desculpou. – Talvez eu devesse abrir um destes para teste! – ela disse, lançando um olhar malicioso sobre os jovens, como um lobo que aprecia sua presa.
- Não, não! Devemos respeitar as ordens da rainha em seu leito de morte! – enunciou.
Os garotos trocaram olhares novamente. Aquilo definitivamente cheirava á pistas, e mal podiam esperar a chegada dos outros fragmentos.



..::Continua::..

sábado, 2 de janeiro de 2010

Capítulo XX ..::Escurecer::..


Jeanine seguia o caminho do coelho o mais longe que podia na fila. Todos estavam com as pequenas lanternas acesas, iluminando o local com muito pesar, pois o máximo que conseguiam enxergar era o chão ladrilhado como um tabuleiro de xadrez e algumas paredes de madeira escura pintadas de branco, cuja tinta já estava a descascar.
O animal adentrou um escuro corredor repleto de portas de tamanho e entalhe em relevo diferenciados. As lanternas até que estavam funcionando, mesmo assim, toda vez que a garota espiava por cima de seus ombros, nada conseguia ver tamanha a escuridão daquele lugar.
- Este lugar está mais escuro que quando vim aqui! – Emily deixou-se exclamar.
- É verdade – Edgard concordou.
O coelho parou diante de uma porta e começou a examinar sua maçaneta. Ele batia em alguns pontos dela, como se fosse um segredo para abri-la. Após alguns minutos, a tranca fez um estranho barulho metálico.
Ao passar, os jovens tinham que abaixar suas cabeças, pois a porta parecia ajustada ao tamanho do animal.
Andavam por um segundo corredor de portas, quando Jeanine ouviu algo ás suas costas. Ela apontou a lanterna e viu o gato, que dessa única vez não parecia sorrir, seus pelos, antes multicoloridos, estavam em tonalidades de cinza e marrom escuro. De olhos tristes, ele disse á garota:
- Jeanine. Algo está acontecendo.
- Gato! O que houve? O que aconteceu com você – ela perguntou, preocupada e deprimida.
- O País das Maravilhas escureceu. E algo pior ainda, – ele disse sombrio – agora nada funciona como antes. Apesar de este lugar possuir sua falta de noção mágica, tudo tende á morte.
Os olhos de Jeanine encheram-se de lágrimas com o tom de lástima do animal. Ela não chegou a chorar, mas sua garganta estreitou-se antes que conseguisse falar.
- Nós podemos mudar isso? – interpelou ao gato.
- Sim. Eu e os poucos que ainda não foram corrompidos á loucura da Rainha de Copas, depositamos toda nossa fé em vocês.
Jeanine sentiu algo á suas costas e virou-se assustada.
- Calma. Calma. O que houve? – Carol perguntou.
Ambas se abraçaram por alguns instantes. Jeanine recuou lentamente.
- Com quem você estava conversando?
A férula fechou os olhos, tentando controlar o choro. Suspirou, para depois enfim dizer:
- O gato. Você tinha que ver como ele estava! – disse, definhando a voz.
- Jeanine, calma. Respira.
- Ele disse que o país está ficando pior, e que tudo agora está com ares de morte – contou, gaguejando.
Caroline olhou para a garota deveras.
- E nós podemos mudar isso, certo? – indagou.
- Creio que sim – a outra respondeu melancólica.
A dupla se abraçou e seguiram o caminho, juntando-se aos outros, enquanto o animal pálido abria outra porta da mesma maneira que a anterior.
Jeanine seguia a fila, sem deixar de pensar no que o gato havia lhe dito. Ela concluiu que precisavam de um ultimo e mínimo sinal, uma pista de minerva, para poderem por fim á tudo aquilo. Era apenas uma peça do quebra cabeça que faltava, e como Emily havia dito, durante o chá era provável que conseguissem isso. Se os outros segmentos de Alice estivessem lá, talvez uma conversa com eles fizesse surgir uma nova trilha.
Ela se entristeceu repentinamente. Não conseguia encarar as condições em que mundo qual tanto amava em tempos de criança se encontrava. E achou engraçado como isso lembrava o próprio mundo em si.
Mas sempre há uma ultima esperança no fundo da caixa de pandora. Não foram eles que a abriram, mas seriam eles essa expectativa de melhoria.
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..::Continua::..