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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Capítulo XLVII ♥ ♠ Na Sala de Espera ♣ ♦


Emily e Jeanine aguardavam pacientemente na sala de espera do hospital, e como estavam sentadas próximas ao bebedouro, presenciavam a maior das movimentações do hospital: Duas ou três pessoas que vezes iam pegar um copo plástico de água.
Estava muito monótono lá. Uma enfermeira vinha e voltava sempre apressada pelos corredores, sua face grave fitava as garotas cada vez que ela surgia na grande porta dupla de madeira.
Amy tombou sua cabeça nos ombros de sua amiga, e fechou seus olhos, estava exausta.
- Quero que esse pesadelo acabe logo – deixou-se suspirar.
Jeanine nada respondeu, apenas olhava para o infinito, pensativa, até que um baque a despertou. Era novamente a mulher de branco que passava apressadamente pelo corredor.
- Ela me lembra o coelho branco – comentou ao voltar de seus perdidos pensamentos.
- O que?
- Ela me lembra o coelho... Sempre apressada e vestida de branco, correndo para lá e para cá como se estivesse atrasada para seu encontro com a duquesa – explicou.
- Tudo ultimamente me lembra o País das Maravilhas – complementou Emily. – Veja, por exemplo, o chão do hospital – disse.
Jeanine olhou para o chão, surpreendendo-se com pisos frios e lisos, intercalados em preto e branco, que pareciam gritar com o sofrimento das pessoas que ali estavam, perdendo parentes, sendo operados ou em risco de morte, como Bill.
De repente a atenção das garotas voltou-se para a porta de vidro principal do lugar, onde Natalie entrou de supetão.
- Meninas! – ela exclamou parada em frente à porta, minutos antes de correr até as jovens. – Ele está melhor? – indagou já próxima a elas.
- Esperamos que sim – Emily anunciou enquanto sua colega sentava-se ao lado de Jeanine. – Nat, preciso saber algo de você. Que história é essa de você ter levado seu namorado ao País das Maravilhas sem ele ter a marca?
- Pelo visto Bill está bem o suficiente para contar esse tipo de coisa – reclamou a garota.
- Não foi Bill que me contou, eu escutei vocês conversando naquele dia em que tivemos que ir ao chá da rainha – Amy esclareceu, ao mesmo tempo em que Jeanine levantava-se.
- Gente, eu vou ao banheiro lavar o rosto, pelo visto vocês duas têm muito que conversar, com licença – disse, saindo, enquanto seus passos ecoavam pela sala de espera.
- Vamos, me conte essa história direito – Emily pediu.
- Olha, eu não vou lembrar de todos os detalhes aqui... Agora. Mas assim que voltei da viagem, eu coloquei tudo o que vi em meu diário, em detalhes, tudo completo – a menina contou.
- Ah, bem melhor, com o diário você provavelmente foi sincera, comigo você provavelmente esconderia fatos que aconteceram lá – Amy falou em tom sarcástico.
- Que bom que confia em mim – Natalie devolveu.
Emily levantou-se.
- Onde você vai?
- Vou chamar a Jeanine para que possamos buscar seu diário – a garota disse, já andando em direção ao banheiro.
Adentrando o lugar, avistou Jeanine em frente ao espelho, chorando enquanto evitava encarar seu próprio reflexo, fitando a pia à sua frente.
- O que houve? – Amy indagou, enquanto corria abraçar a amiga.
- Eu não consigo olhar para o espelho. Alguma coisa mudou, o País das Maravilhas está mais forte.
- Como você sabe disso? – a jovem tornou a perguntar, enquanto acariciava os cabelos de sua amiga que estava com a cabeça pousada em seu ombro direito.
- Olhe para o espelho.
Emily virou seu rosto vagarosamente, e ao fitar o espelho seu coração disparou, suas pernas falharam e ela deixou escapar um grito de espanto, que se desgrudou involuntariamente de sua garganta.
No reflexo duas garotas se abraçavam, uma era Amy e a outra era Jeanine, porém ao redor delas não havia um sujo banheiro, mas sim um canteiro de flores, que se contorciam em meio a seus caules. Violetas, jasmins, rosas e margaridas, todas com pequenos rostos no lugar de seus miolos, rostos que pareciam gritar de dor.





♥ ♠ Continua... ♣ ♦

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Capítulo XLVI ♥ ♠ H ♣ ♦



Emily adentrou correndo os brancos corredores do hospital. Seu coração estava a mil, ela estava carregando consigo um estranho recipiente de plástico, do qual emanava um estranho cheiro adocicado.
- O horário de visitas acabou? – perguntou para uma enfermeira que estava em frente á uma grande porta pintada com uma tinta verde-azulada bem clara.
- Não – respondeu, retirando de Amy um suspiro de alívio. – Aqui, pegue seu crachá de visitante e não corra pelos corredores! Quem você veio visitar?
- Bill – a garota disse passando a fina corda do crachá por sua cabeça, para vesti-lo.
- Bill de que? – a mulher séria perguntou, enquanto fitava o que estava nas mãos da jovem.
- William Bortolazzo.
- Está na sala 15, no terceiro andar.
Assim que a enfermeira liberou a passagem, Emily disparou, andando apressadamente pelos corredores, em alguns momentos chegava até mesmo a correr, tamanho seu desespero.
Aquele local era muito grande e alguns ambientes do mesmo eram mal-iluminados, sem janela e com fracas lâmpadas brancas. O elevador comum estava fora de funcionamento, o que forçou Amy a subir vários conjuntos de escadas.
Ela passou por diversos corredores, que estavam com as portas abertas, porém, ao contrário da primeira vez que fora lá, nem se importou em olhar o que se passava nas diversas salas daquele hospital.
Logo viu uma pequena placa ao lado de uma das portas com o número quinze. Entrou. Bill estava adormecido em sua cama, ao seu lado estava um grande pedestal com um saco plástico cheio de um líquido branco amarelado, com um pequeno fio que ia direto para uma das veias do braço do menino.
Emily foi logo retirando um garfo de seu bolso. Ela abriu o recipiente, onde se encontrava um estranho tortulho gelatinoso todo avermelhado com manchas brancas por toda sua superfície. Ele era transparente, agora que já não brilhava mais era possível ver veias que cobriam toda a extensão de seu corpo por dentro.
A jovem pegou o talher e começou a amassar o cogumelo, transformando o mesmo em uma espécie de massa escorregadia e orgânica. Ela levantou a cama do rapaz, para que o mesmo ficasse numa posição mais ereta.
Com o garfo, ela levou uma pequena quantia do fungo na boca desacordada do rapaz, observando sua garganta para ver se ele engolia. Uma pequena elevação no pescoço de Bill indicou que o mesmo havia engolido, assim ela já preparou a segunda garfada com um leve sorriso de alívio em seu rosto.

Edgard ainda chorava sentado na cama de Carol, enquanto a garota lhe abraçava. Natalie e David estavam na cozinha, tinham pedido para beber água enquanto Jeanine saíra de encontro à Amy no hospital.
- Ei, já passou, já passou – a garota falava, enquanto seu coração pulsava violentamente em seu peito.
Ambos tremiam muito, estavam muito assustados com o que acontecera. Edgard além de assustado, estava também nervoso, por causa do segredo que revelara.
- Eu sei. Mas eu ainda estou muito agitado – ele disse, em meio ás lágrimas.
- Não se preocupe. No meio da confusão, ninguém mais te ouviu, só eu – ela contou.
- Ah, quanto a isso, nunca fui muito preocupado das pessoas saberem ou não afinal de contas, eu não pedi para acontecer. O único problema são os meninos, que tirariam sarro, com certeza, se soubessem – ele choramingou.
Natalie e David voltaram ao quarto e sentaram-se no chão, ambos também estavam com o coração acelerado.
- Eu não quero mais voltar lá! – Natalie admitiu, começando a chorar.



♥ ♠ Continua... ♣ ♦

sábado, 30 de outubro de 2010

Capítulo XLV ♥ ♠ Fungus Mortis ♣ ♦


Todos encaravam os cogumelos brilhosos. Natalie se coçava toda, com o medo tomando todo seu corpo.
- É, está na hora – disse em um suspiro.
- Nos separamos, quem encontrar primeiro agita a lanterna para o alto. Estão vendo aquelas gramas gigantes que cobrem a vila dos cogumelos brilhosos? – Amy perguntou, apontando para o alto e recebendo balançadas positivas de cabeças. – Se lá houver alguma luz se mexendo, é possível ver apesar do brilho dos cogumelos, então prestem sempre atenção lá. O cogumelo tem brilho vermelho e manchas brancas. Alguma dúvida?
- Não – Jeanine confirmou.
- Tentem sempre manter alguém à vista e sejam rápidos – Emily disse. – Vamos!
Desceram um pequeno morro de pedras cobertas de musgos e adentraram o local iluminado. Todos percorriam rapidamente com os olhos, movendo-se com muito cuidado para não encostar em nenhum daqueles fungos.
Entre alguns cogumelos, surgiam gramas as quais cada unidade possuía o tamanho de dois ou três deles. Era como se estivessem caminhando por um mundo microscópico.
Estavam todos tremendo de medo enquanto andavam e a primeira emoção foi aflorada por Carol, que logo admitiu baixinho apenas para si:
- Estou com medo. Por favor, encontrem logo esse tal remédio.
Amy avistou um brilho vermelho, que surgia próximo a uns cogumelos cujo corpo gelatinoso emanava uma luminosidade esverdeada. Ela começou a se aproximar, enquanto foi logo chamando por Jeanine, que estava mais próxima dela.
- Jeanine! Acho que encontrei! – gritou, tossindo devido ao forte cheiro.
A outra garota foi ao encontro da amiga, que parou, com uma expressão de espanto.
- O que foi? – perguntou.
- Olhe – Amy respondeu apontando para sua frente.
Quando Jeanine olhou, também se espantara. Era uma trilha com diversos cogumelos de brilho avermelhado.
- Vamos. Tem que ter manchas brancas – Emily afirmou novamente.
Assim, as duas adentraram o ambiente, até ouvirem um grito muito alto.
- O que será? – Jeanine questionou, olhando assustada para a jovem.
Novamente o silencio tomara conta do ambiente.
- Procura, rápido! – Amy apressou.
Ambas passaram rapidamente verificando os fungos até que terminaram a trilha, onde os mesmos voltavam ao seu brilho comum, ou amarelado, ou esverdeado ou azulado.
- Tem que estar aqui! – Emily afirmou novamente, mais para si que para sua amiga. – Vamos voltar procurando!
Assim as garotas começaram a passar mais uma vez pela trilha.
Edgard, por sua vez, estava procurando próximo à Carol e acompanhava a sua lanterna, pois assim, para ele, ele estava oficializando a visagem, para ter certeza que tinha olhado por tudo.
Seu nervosismo era tanto que suas pernas mal o conseguiam sustentar. O garoto adentrou um punhado grande de cogumelos, era um clarão em meio aquela floresta fungífera, onde, em seu centro, havia apenas um único tortulho, de brilho avermelhado e com manchas brancas por toda sua extensão.
- Encontrei! – o rapaz bradou alegremente.
Nesse mesmo momento Carol surgiu, observando-o no clarão por entre os fungos. Ela sorriu. Edgard retirou o estilete de seu casaco e retirou o cogumelo por sua base. Estava já andando na direção da amiga quando os tortulhos à sua volta começaram a inchar.
- Carol... O que está havendo?
- Eles estão... Crescendo? – ela disse, com a respiração ofegante e com uma face de espanto.
Os fungos pareciam um bolo no forno, porém com um efeito muito mais rápido. Seu cheiro se tornou mais e mais forte. Caroline soltou um grito enquanto seu braço tentou se adentrar nas frestas que os cogumelos deixavam, mas logo o retirou, com medo que o mesmo fosse esmagado pelos vegetais crescentes.
- Edgard! Edgard!
O garoto estava preso em seu centro, onde o perigoso cheiro estava muito forte, ele começou a se sentir atordoado.
- Eu... fui molestado por um amigo de um tio meu... quando eu era criança – deixou-se dizer.
Carol ficou impressionada com a confissão do jovem. Seu coração disparou.
- Toque o espelho, vou fazer sinal com a lanterna!
Ao ouvir isso, o garoto retirou o objeto de sua jaqueta e imediatamente colocou sua mão sobre seu reflexo.
Caroline estava ligando sua lanterna quando sentiu uma enorme dor em sua mão, deixando cair o objeto. Uma outra pedra ergueu-se no ar, acertando-a no ombro e depois na bochecha.
Ela caiu no chão. Seu braço esticou-se ao máximo para pegar a lanterna, mas algo a puxou pela perna e ela começou a ser arrastada.
David e Natalie estavam olhando por uma trilha de fungos quando ouviram os gritos da colega e logo correram em sua direção, vendo-a ser arrastada por ninguém.
Carol também avistou-os.
- Edgard encontrou, façam o sinal e toquem o espelho! – gritou.
Rapidamente as duas lanternas foram ligadas e começaram a balançar de um lado para outro. Emily e Jeanine viram a luz movimentando-se sobre a alta grama que estava sobre eles.
- Encontraram.
- Eu podia jurar que estivesse aqui! – Amy exclamou, já com seu espelho em mãos.
Enquanto isso, Carol chutava ninguém, tentando se soltar, enquanto debatia-se no chão. Ela retirou o espelho de seu bolso e ainda sendo arrastada fechou os olhos e tocou seu reflexo.
David e Natalie fizeram o mesmo.




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Continua...

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capítulo XLIV ♥ ♠ A luta com Ninguém ♣ ♦

Enquanto caminhava, a cabeça de Amy estava a mil. E não só a dela, os outros jovens também pareciam caminhar pensativos.
- Não acredito. Ela é um psicopata! – Natalie disse.
- Mas como você lembrou esse termo? – David indagou.
- Meu pai é psicólogo – ela contou. – E ele me disse que, um psicopata, ou sociopata, não tem uma noção muito grande de certo e errado, ele simplesmente vai lá e faz, são inconseqüentes por causa do ego grande, independente do que vai acontecer sabe. E eles são super inteligentes, por isso menosprezam os outros e se isolam.
- Tem certeza disso? – o garoto tornou a questionar.
- Não. Não me lembro bem o que meu pai me disse, mas foi algo mais ou menos assim. Acho que, como ela nasceu com toda essa maldade, ela deve ser uma espécie de psicopata. E ás vezes, independente do meio em que ela viveu, ela pode ter um senso afetado de bom e mau, por ter nascido da maldade de Alice – começou. – Muitos psicopatas se tornam o que são pro causa do meio em que vivem.
- Mas realmente esse pode não ter sido o caso dela – Emily concordou. – Eu dei uma estudada sobre isso.
- Como você pode estudar de tudo, mano? Que nerd! – Natalie exclamou, um tanto quanto brava.
- Se você não procura se informar o problema é seu – ela devolveu.
- Gente, será que a rainha banca é do bem? Ela parecia ser legal lá. Não, não é bem legal a palavra, sabe. Ela parecia... Estar fazendo a coisa certa – Jeanine perguntou aos demais.
- Para mim ela estava de aparências. Só para que a lagarta falasse o que ela queria sabe? – Emily observou.
- Ei, vocês escutaram isso? – Carol chamou.
Todos olharam para ela, que fez um sinal de silêncio com a o dedo indicador sob seus lábios.
Era um estranho som de passos. De repente Caroline foi ao chão.
- Ei, alguém me bateu! AI! – fora acertada novamente.
Edgard pôs-se à sua frente imediatamente, também sendo acertado na barriga, o que lhe causou uma grande dor, fazendo-o abaixar.
- Quem está aí? – ele gritou, enquanto era acertado no rosto.
Amy começou a pensar, repassou os dois livros até que encontrou quem os estava acertando.
- É o ninguém! Corre! – bradou.
Todos correram na direção em que estavam andando. Emily voltou, ajudando o casal a se levantar enquanto corriam, mancando. Uma pedra ergueu-se no ar e foi arremessada, acertando Edgard nas costas.
- Vamos! – a garota apressou. – ele não vai ser idiota de entrar no corredor dos fungos brilhantes, temos que ir, rápido.
Amy sentiu uma pancada em suas costas. Era mais uma pedra que fora arremessada.
- Vamos! Corre! Ele só vai parar quando... – começou.
- Eu posso enfrentar ele! – Edgard falou.
- Como que você vai lutar com ninguém? – Carol indagou, com a respiração ofegante.
David surgiu correndo na direção dos jovens.
- Vocês estão bem? – perguntou.
- Estamos sendo atacados! – Carol contou. – Continua correndo!
- Eu sei como podemos ver ele! – David disse, voltando a correr.
A velocidade do garoto foi aumentando, ele colocou seu ombro em frente ao seu corpo e deu de encontro com um grande cogumelo do tamanho de uma árvore que lá havia. A estrutura orgânica do fungo estremeceu, fazendo-o chacoalhar. Uma grande quantia de um estranho pólen saiu de seu topo, espalhando-se por todo o local, o que fez Emily e Edgard espirrarem quase que simultaneamente.
Entre o pólen, surgiu uma figura deforme, que afastava as partículas da poeira fungífera enquanto se movia.
David agarrou uma enorme pedra, que levantou com esforço. Ele retesou o pesado objeto e mirou.
A figura vinha em sua direção, fazendo o pólen se afastar. Ele arremessou a pedra, que acertou ninguém, fazendo com que a neblina que saíra do cogumelo ficasse estável.
Uma tossida em seco anunciou a presença de Jeanine.
- O que aconteceu aqui? – ela perguntou.
- David conseguiu... Ah, não tem nem como falar, mas ele provavelmente desmaiou a coisa invisível que estava perseguindo a gente – Edgard contou.
- É, é melhor irmos! Antes que a coisa acorde – Emily sugeriu pouco antes de espirrar novamente. – Onde está a Natalie? Todo esse pólen...
- Ela ficou esperando na trilha, melhor irmos, até minha garganta secou aqui – Jeanine falou. – Esse cheiro é enjoativo!
Eles tornaram a andar, um pouco mais depressa. Logo estavam longe da poeira, mas seu cheiro ainda podia ser sentido por causa dos outros cogumelos que os rodeava.


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Continua...
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo XLIII ♥ ♠ Respostas e fumaça ♣ ♦

Emily se aproximou da borda do gigante cogumelo em que se encontrava.
- Nós temos um presente, mas não sei quantas perguntas ele vai valer – disse. – Analise esse charuto e diga quantas perguntas podemos fazer.
A garota fez um sinal à David, que se aproximou também, retirando o charuto de seu bolso. Ele retesou o braço e arremessou o pequeno objeto o mais longe que pôde. Uma gigantesca e esquelética mão ergueu-se e agarrou o fumo, logo em seguida o crânio surgiu novamente entre a fumaça. A mão se aproximou do mesmo, como se a lagarta o estivesse analisando.
- Sim, é isso. Acho que, por esta raridade, duas perguntas. Seriam quatro, se ele já não tivesse sido usado – a criatura falou calmamente.
- O que acontece quando um fragmento da Alice morre? – Amy indagou com a voz alta e trêmula, temendo a resposta.
A lagarta suspirou. A fumaça começou a se afastar, conforme um corpo rastejante ergueu o crânio. As mãos da criatura pousaram sobre o cogumelo, o que fez com que Emily se afastasse, desviando dos dedos, que aparentavam ter em torno de dois metros.
A caveira foi deixada sob o centro do cogumelo, e todo o resto foi se transformando, como se estivesse sendo absorvido pelo chão, primeiro pegando a cor da superfície em que tocava até desaparecer, como mágica.
Os jovens trocaram olhares assustados. Aquele pesadelo parecia nunca acabar.
O pedaço de esqueleto era maior que três deles juntos, como se os garotos tivessem o tamanho de meros insetos. Do orifício esquerdo em que se encontra o olho, surgiu uma lagarta, que arrastava consigo um narguilé azul. Vagarosamente seu corpo se locomovia sob a superfície do crânio até alcançar seu topo, onde ela se alojou e passou a tragar do objeto que carregava, liberando a fumaça um bom tempo depois.
- Quais serão suas perguntas, então? – a criatura disse, baforando fumaça nos jovens.
- Eu já disse! – Emily retrucou entre tossidas. – O que acontece quando um fragmento da Alice morre?
- Isso depende – respondeu, tragando novamente.
Ficaram encarando a lagarta em silencio.
- De que? – Natalie questionou.
- Se houver um fragmento receptor, todos os outros vão até ele, e uma vez completo... – tragou. – Bem, vocês podem imaginar.
- Mas o que acontece? – Carol indagou irritadiça com a fumaça.
- Não posso dizer – a criatura respondeu calmamente. – Vocês já fizeram suas duas perguntas.
- Não! Fizemos apenas uma! – Edgard protestou.
- Não, vocês fizeram duas. O que acontece com os fragmentos, e do que isso dependia. – o estranho inseto falante explicou.
Amy encarou o ser com pesar. Seu olhar voltou-se para os outros garotos, que deram de ombros.
- Ótimo! – ela começou, voltando a visualizar a lagarta em cima do crânio. – Se você quer trapacear, por mim tudo bem! Trapaceando até mesmo eu conseguiria charutos!
- Então trapaceie! – o inseto riu.
- Me desculpa, estou em outro nível – ela devolveu.
Emily virou-se, com os dedos cruzados para que sua idéia funcionasse, deu passos lentos e firmes até seus amigos até que a criatura a interrompeu com um grito:
- Tudo bem, tudo bem! Eu respondo outra! – a lagarta baforou.
Amy sorriu por um segundo, depois ficou séria para que a criatura não percebesse e voltou para próxima ao crânio.
- Quem é aquela menina que parece a Alice? – disse de uma vez, quase que atropelando as palavras com o nervosismo.
- Ela é outro fragmento da Alice, porém ela é um fragmento diferente – começou. – Enquanto cada um de vocês ficou com uma das características da personagem, como por exemplo, a curiosidade, a sinceridade, a esperteza, a teimosia, entre diversas outras, ela é o fragmento que ficou com todas as coisas ruins. Toda a perversão do conto, todo o horror envolvido, a confusão, a tristeza, ficaram nela, portanto ela seria, no mundo de vocês, como eles dizem mesmo?
- Psicopata? – Natalie disse em tom de pergunta.
- Mais nenhuma pergunta para vocês – a lagarta encerrou, dando uma ultima tragada e depois entrando no crânio através do orifício do olho, de onde saiu fumaça após alguns segundos.
- Melhor irmos, temos um cogumelo para encontrar! – David chamou, enquanto Emily se afastava.
Os jovens começaram a andar, rumando a um estranho brilho ao longe.

♥♠♣♦

Continua