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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Capítulo XLII ♥ ♠ O Lado da Lagarta ♣ ♦


Todos tocaram o espelho ao mesmo tempo. E de olhos abertos, Emily pôde ver sua realidade se tornar o País das Maravilhas. A cama tornou-se uma grande pedra, o chão ficou todo arenoso, mas logo o pó se transformou em uma densa terra. O computador, o guarda-roupa, os abajures, todos os móveis foram pegando uma textura orgânica, e quando menos era possível perceber, haviam sido convertidos a cogumelos e fungos.
As paredes já não estavam mais lá, entretanto não era possível ver o céu, por causa da neblina que pairava o ambiente. Um doce cheiro de grama misturado ao incerto aroma dos tortulhos.
- E aqui estamos novamente... – Jeanine suspirou.
- Vamos, quanto menos ficarmos por aqui, melhor! – Edgard disse, já começando a caminhar por uma pequena estradinha sem cogumelos que os levou à lagarta da outra vez.
A caminhada já estava durando um bom tempo, a névoa estava se tornando cada vez mais densa, e logo os jovens já estavam todos com as lanternas ligadas.
- Estou com medo – Natalie admitiu. – esse lugar aqui é tenebroso!
- É mesmo, vocês nunca tinham vindo aqui ainda – Emily admirou. – Logo logo o cheiro começa a piorar.
E não demorou muito para que um fedor de tabaco tomasse conta do ambiente.
Os caminhos passaram a se confundir e subir era como andar para a frente, caso subissem, provavelmente estariam descendo, e andar para os lados era como se estivessem todos andando de ré. Andavam e andavam e andavam, e a impressão era a que estavam andando por uma parede, suspensos no ar.
Logo todo esse tipo de sensações acabou, e os garotos se viram em cima de um grande cogumelo. Mas não estavam sozinhos.
- Eu tenho mais perguntas para fazer – uma fina voz feminina exigiu.
- Isso já não é meu problema, responderei apenas a mais duas e depois calo a minha boca! – a lagarta respondeu.
- O que vamos fazer? – David questionou em um sussurro, com os olhos arregalados.
- Fique quieto e pare de se mexer para não afastar a fumaça! Deixemos a fumaça ficar em volta de nosso corpo e assim não seremos percebidos! – Emily ordenou.
Todos se mobilizaram e logo a fumaça foi se expandindo, até tomar a forma dos jovens, que já não estavam enxergando mais nada, além das lanternas estarem desligadas.
- Quem envenenou a Rainha Vermelha? – a voz fina disse.
- Quem me pagou o suficiente para eu dizer outra coisa para a Rainha Vermelha. Pensei que você, Rainha Branca, fosse um pouco mais esperta do que isso.
- E você quer ser o causador de uma guerra? A essa altura do campeonato? – a rainha reclamou em um brado.
- Eu estou do meu próprio lado. Quem pagar mais leva o prêmio e é assim que as coisas funcionam! – a voz da lagarta soou, alta e forte.
- Esse é o seu lar. Parece que você quer destruir tudo! Uma guerra só vai ajudar a matar mais e mais criaturas do País das Maravilhas!
- Sim. E quanto menos melhor. Quanto menos criaturas vivas, menos almas corrompidas, e além do mais, seria muito melhor se você e sua irmã morressem. Isso sim acabaria com todo mal que tem tomado conta desse lugar! Eu quero sim ser o causador de uma guerra que vai salvar esse lugar! – a lagarta vociferou.
- Então é isso! – Amy cochichou. – Ela só finge não estar de nenhum lado! Ela na verdade também não está corrompida, somente luta pelo que acredita que vai ajudar o País das Maravilhas! – exclamou, surpresa com o que a criatura dissera.
- Como pode! Como pode? Devolva o presente! Devolva já, nesse instante! – a rainha branca gritou com sua voz aguda.
- Não. Saia de meu território, você que o está invadindo! – a criatura respondeu.
O coração de Emily batia fortemente em seu peito, o nervosismo estava tomando conta de seu corpo, tanto que suas pernas mal a conseguiam suportar. Ela quase podia ouvir sua própria pulsação.
De repente uma pequena quantia de névoa se dissipou. Um xale branco passou, cortando o céu, e Amy pôde ver a silhueta de um pequeno bode, que corria atrás do mesmo. Estranhamente o animal estava gritando:
- Você fez a escolha errada! Se você me ajudasse seria bem melhor para você! Bem MEElhor! MEElhor! MÉE! MÉE!
Enfim o silêncio tomou conta do local. Era como se nada mais existisse ali além da fumaça. Ninguém tinha coragem de se revelar, mal conseguiam se mover.
Um forte vento começou, o que fez com que a fumaça que rodeava os jovens fosse desfeita. Era a criatura que estava soprando para que os jovens fossem mostrados.
- Vocês estavam ouvindo tudo! – a lagarta exclamou, fitando aos garotos com dois pequeninos olhos negros que eram vistos atrás da carcaça de crânio humano que cobria sua face.
- Sim. Estávamos – Emily disse, com a voz trêmula de medo e adrenalina.
- Isso não vai mudar nada. Vocês ainda têm que pagar para receber informações, caso as queiram, claro – a criatura falou, já se afastando do grande cogumelo em que eles estavam.
Todos se entreolharam. Parecia que o coração no peito de cada um estava prestes a explodir. Quase que podiam sentir os batimentos uns dos outros. Era chegado a hora de sanar mais algumas de suas dúvidas.



♥ ♠ Continua... ♣ ♦

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo XLI ♥ ♠ Noite em Claro ♦ ♣


Emily acordou de um sonho estranho, em que via a Rainha Branca correndo atrás de seu xale, como na história, em um campo todo feito de pedras que se intercalavam entre vermelho e branco. Estranhamente durante o sonho, o xale branco se tornava um grande pássaro pálido, que logo ganhava uma coloração rubra e dourada. Era como se Amy assistisse isso tudo de uma montanha, vendo o pássaro cruzar o céu negro e poluído, até chegar ao ombro da Rainha Vermelha.
Ela levantou-se da cama, e caminhou até a cozinha, onde tomou um copo de água e pegou outro para levar ao quarto, bebendo aos poucos, em goles rasos.
O relógio dizia que eram três horas da manhã, mas a adrenalina que corria pela garota era tanta que ela nem conseguiria dormir novamente. Sentou-se na cadeira do computador e lá ficou encarando o nada, com o copo em mãos.
O que poderia acontecer se um dos fragmentos morresse?
Depois de uma longa hora, Emily se deitou em sua cama, mas continuou olhando para o teto por mais um longo tempo.
Amanheceu o dia, e ela estava a ler de novo o conto de Lewis Carroll. Sua mãe apareceu na porta, bocejando de sono.
- O que você está fazendo? Caiu da cama? – perguntou, sonolenta.
- Não. Resolvi acordar cedo. Preciso só esperar dar às oito horas para poder ir a uma loja – explicou.
- O que você está aprontando? – a mãe indagou, sentando-se na cama ao lado da filha.
- O aniversário de uns amigos meus está chegando.
A mãe deu um beijo na testa da filha e depois saiu.
Emily pegou umas folhas que havia imprimido no dia anterior sobre psicopatia para estudar novamente. Seus olhos cansados corriam linha por linha.
Mais tempo e uma alegre música começa a soar do despertador. Oito horas. A garota levantou-se em um pulo e correu ao guarda-roupa. Trocou-se rapidamente, escovou os dentes e lavou o rosto com a água gélida.
Saiu andando apressadamente pelas ruas, quase correndo, enquanto via borrões de pessoas que passavam à medida de seus passos.
Na loja, seu coração batia tão fortemente que ela teve grandes problemas em conseguir comprar as lanternas para seus colegas. As palavras lhe fugiam enquanto o atendente confuso tentava decifrar o que a garota queria.
Comprada a iluminação ela partiu em direção à casa de Carol. Sua ansiedade estava tão alto que em certo trecho do caminho Amy apressou o passo a ponto de começar a correr.
Trombou com o portão e o ficou encarando por certo tempo enquanto tentava acalmar sua respiração ofegante.
- O que está acontecendo? – Natalie disse, assustando Emily, que arregalou os olhos, amedrontada.
- Não sei. Não estou me sentindo muito bem – contou.
- Fique fria. Ficar nervosa só vai piorar as coisas! – a outra jovem disse, tentando acalmá-la.
- Eu sei. Estou tentando! – Amy respondeu, grosseira.
- Ontem eu lembrei de você – Natalie contou, antes que Emily tocasse a campainha.
- Porque?
- Estava passando um jogo de críquete na televisão. Não sei porque, mas eu lembrei de você quando vi – disse.
- Deve ser por causa da Alice.Que engraçado – a garota falou amigavelmente enquanto tocava a campainha.
Caroline foi atender elas. A jovem parecia tão nervosa quando ambas, e foi logo dizendo enquanto ainda abria o cadeado.
- Já estão todos aqui. Tá todo mundo morrendo de medo. Faltavam só vocês duas. Trouxe as lanternas?
- Trouxe.
Estava todo mundo no quarto, que parecia muito diferente da ultima vez em que tinham estado lá.
- Nossa Carol, como seu quarto está diferente – Emily deixou-se exclamar diante do nervosismo.
- É. Eu pintei as paredes. Queria o quarto mais claro depois de tudo que a gente passou. Estou dormindo com a luz acesa ultimamente – admitiu.
- Prontos então – Edgard evocou.
- Não! Calma – Amy disse. – Preciso de uns minutinhos.
Ela fechou os olhos, e de olhos fechados entrou as lanternas e suas respectivas pilhas. Agarrou sua iluminação também e começou uma contagem regressiva a partir do cinqüenta. Sua mão tremia. Conforme os números chegavam ao fim, a velocidade da contagem ia diminuindo.
- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um – e deu um forte suspiro. - Lembrou de trazer o charuto? – perguntou a David sem abrir os olhos ainda.
- Sim – o garoto respondeu.
Emily abriu os olhos. Todos a estavam encarando.
- Hora de entrar – ela finalmente falou.





♥ ♠ Continua... ♣ ♦