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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Capítulo XLVI ♥ ♠ H ♣ ♦



Emily adentrou correndo os brancos corredores do hospital. Seu coração estava a mil, ela estava carregando consigo um estranho recipiente de plástico, do qual emanava um estranho cheiro adocicado.
- O horário de visitas acabou? – perguntou para uma enfermeira que estava em frente á uma grande porta pintada com uma tinta verde-azulada bem clara.
- Não – respondeu, retirando de Amy um suspiro de alívio. – Aqui, pegue seu crachá de visitante e não corra pelos corredores! Quem você veio visitar?
- Bill – a garota disse passando a fina corda do crachá por sua cabeça, para vesti-lo.
- Bill de que? – a mulher séria perguntou, enquanto fitava o que estava nas mãos da jovem.
- William Bortolazzo.
- Está na sala 15, no terceiro andar.
Assim que a enfermeira liberou a passagem, Emily disparou, andando apressadamente pelos corredores, em alguns momentos chegava até mesmo a correr, tamanho seu desespero.
Aquele local era muito grande e alguns ambientes do mesmo eram mal-iluminados, sem janela e com fracas lâmpadas brancas. O elevador comum estava fora de funcionamento, o que forçou Amy a subir vários conjuntos de escadas.
Ela passou por diversos corredores, que estavam com as portas abertas, porém, ao contrário da primeira vez que fora lá, nem se importou em olhar o que se passava nas diversas salas daquele hospital.
Logo viu uma pequena placa ao lado de uma das portas com o número quinze. Entrou. Bill estava adormecido em sua cama, ao seu lado estava um grande pedestal com um saco plástico cheio de um líquido branco amarelado, com um pequeno fio que ia direto para uma das veias do braço do menino.
Emily foi logo retirando um garfo de seu bolso. Ela abriu o recipiente, onde se encontrava um estranho tortulho gelatinoso todo avermelhado com manchas brancas por toda sua superfície. Ele era transparente, agora que já não brilhava mais era possível ver veias que cobriam toda a extensão de seu corpo por dentro.
A jovem pegou o talher e começou a amassar o cogumelo, transformando o mesmo em uma espécie de massa escorregadia e orgânica. Ela levantou a cama do rapaz, para que o mesmo ficasse numa posição mais ereta.
Com o garfo, ela levou uma pequena quantia do fungo na boca desacordada do rapaz, observando sua garganta para ver se ele engolia. Uma pequena elevação no pescoço de Bill indicou que o mesmo havia engolido, assim ela já preparou a segunda garfada com um leve sorriso de alívio em seu rosto.

Edgard ainda chorava sentado na cama de Carol, enquanto a garota lhe abraçava. Natalie e David estavam na cozinha, tinham pedido para beber água enquanto Jeanine saíra de encontro à Amy no hospital.
- Ei, já passou, já passou – a garota falava, enquanto seu coração pulsava violentamente em seu peito.
Ambos tremiam muito, estavam muito assustados com o que acontecera. Edgard além de assustado, estava também nervoso, por causa do segredo que revelara.
- Eu sei. Mas eu ainda estou muito agitado – ele disse, em meio ás lágrimas.
- Não se preocupe. No meio da confusão, ninguém mais te ouviu, só eu – ela contou.
- Ah, quanto a isso, nunca fui muito preocupado das pessoas saberem ou não afinal de contas, eu não pedi para acontecer. O único problema são os meninos, que tirariam sarro, com certeza, se soubessem – ele choramingou.
Natalie e David voltaram ao quarto e sentaram-se no chão, ambos também estavam com o coração acelerado.
- Eu não quero mais voltar lá! – Natalie admitiu, começando a chorar.



♥ ♠ Continua... ♣ ♦

sábado, 30 de outubro de 2010

Capítulo XLV ♥ ♠ Fungus Mortis ♣ ♦


Todos encaravam os cogumelos brilhosos. Natalie se coçava toda, com o medo tomando todo seu corpo.
- É, está na hora – disse em um suspiro.
- Nos separamos, quem encontrar primeiro agita a lanterna para o alto. Estão vendo aquelas gramas gigantes que cobrem a vila dos cogumelos brilhosos? – Amy perguntou, apontando para o alto e recebendo balançadas positivas de cabeças. – Se lá houver alguma luz se mexendo, é possível ver apesar do brilho dos cogumelos, então prestem sempre atenção lá. O cogumelo tem brilho vermelho e manchas brancas. Alguma dúvida?
- Não – Jeanine confirmou.
- Tentem sempre manter alguém à vista e sejam rápidos – Emily disse. – Vamos!
Desceram um pequeno morro de pedras cobertas de musgos e adentraram o local iluminado. Todos percorriam rapidamente com os olhos, movendo-se com muito cuidado para não encostar em nenhum daqueles fungos.
Entre alguns cogumelos, surgiam gramas as quais cada unidade possuía o tamanho de dois ou três deles. Era como se estivessem caminhando por um mundo microscópico.
Estavam todos tremendo de medo enquanto andavam e a primeira emoção foi aflorada por Carol, que logo admitiu baixinho apenas para si:
- Estou com medo. Por favor, encontrem logo esse tal remédio.
Amy avistou um brilho vermelho, que surgia próximo a uns cogumelos cujo corpo gelatinoso emanava uma luminosidade esverdeada. Ela começou a se aproximar, enquanto foi logo chamando por Jeanine, que estava mais próxima dela.
- Jeanine! Acho que encontrei! – gritou, tossindo devido ao forte cheiro.
A outra garota foi ao encontro da amiga, que parou, com uma expressão de espanto.
- O que foi? – perguntou.
- Olhe – Amy respondeu apontando para sua frente.
Quando Jeanine olhou, também se espantara. Era uma trilha com diversos cogumelos de brilho avermelhado.
- Vamos. Tem que ter manchas brancas – Emily afirmou novamente.
Assim, as duas adentraram o ambiente, até ouvirem um grito muito alto.
- O que será? – Jeanine questionou, olhando assustada para a jovem.
Novamente o silencio tomara conta do ambiente.
- Procura, rápido! – Amy apressou.
Ambas passaram rapidamente verificando os fungos até que terminaram a trilha, onde os mesmos voltavam ao seu brilho comum, ou amarelado, ou esverdeado ou azulado.
- Tem que estar aqui! – Emily afirmou novamente, mais para si que para sua amiga. – Vamos voltar procurando!
Assim as garotas começaram a passar mais uma vez pela trilha.
Edgard, por sua vez, estava procurando próximo à Carol e acompanhava a sua lanterna, pois assim, para ele, ele estava oficializando a visagem, para ter certeza que tinha olhado por tudo.
Seu nervosismo era tanto que suas pernas mal o conseguiam sustentar. O garoto adentrou um punhado grande de cogumelos, era um clarão em meio aquela floresta fungífera, onde, em seu centro, havia apenas um único tortulho, de brilho avermelhado e com manchas brancas por toda sua extensão.
- Encontrei! – o rapaz bradou alegremente.
Nesse mesmo momento Carol surgiu, observando-o no clarão por entre os fungos. Ela sorriu. Edgard retirou o estilete de seu casaco e retirou o cogumelo por sua base. Estava já andando na direção da amiga quando os tortulhos à sua volta começaram a inchar.
- Carol... O que está havendo?
- Eles estão... Crescendo? – ela disse, com a respiração ofegante e com uma face de espanto.
Os fungos pareciam um bolo no forno, porém com um efeito muito mais rápido. Seu cheiro se tornou mais e mais forte. Caroline soltou um grito enquanto seu braço tentou se adentrar nas frestas que os cogumelos deixavam, mas logo o retirou, com medo que o mesmo fosse esmagado pelos vegetais crescentes.
- Edgard! Edgard!
O garoto estava preso em seu centro, onde o perigoso cheiro estava muito forte, ele começou a se sentir atordoado.
- Eu... fui molestado por um amigo de um tio meu... quando eu era criança – deixou-se dizer.
Carol ficou impressionada com a confissão do jovem. Seu coração disparou.
- Toque o espelho, vou fazer sinal com a lanterna!
Ao ouvir isso, o garoto retirou o objeto de sua jaqueta e imediatamente colocou sua mão sobre seu reflexo.
Caroline estava ligando sua lanterna quando sentiu uma enorme dor em sua mão, deixando cair o objeto. Uma outra pedra ergueu-se no ar, acertando-a no ombro e depois na bochecha.
Ela caiu no chão. Seu braço esticou-se ao máximo para pegar a lanterna, mas algo a puxou pela perna e ela começou a ser arrastada.
David e Natalie estavam olhando por uma trilha de fungos quando ouviram os gritos da colega e logo correram em sua direção, vendo-a ser arrastada por ninguém.
Carol também avistou-os.
- Edgard encontrou, façam o sinal e toquem o espelho! – gritou.
Rapidamente as duas lanternas foram ligadas e começaram a balançar de um lado para outro. Emily e Jeanine viram a luz movimentando-se sobre a alta grama que estava sobre eles.
- Encontraram.
- Eu podia jurar que estivesse aqui! – Amy exclamou, já com seu espelho em mãos.
Enquanto isso, Carol chutava ninguém, tentando se soltar, enquanto debatia-se no chão. Ela retirou o espelho de seu bolso e ainda sendo arrastada fechou os olhos e tocou seu reflexo.
David e Natalie fizeram o mesmo.




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Continua...

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Capítulo XLIV ♥ ♠ A luta com Ninguém ♣ ♦

Enquanto caminhava, a cabeça de Amy estava a mil. E não só a dela, os outros jovens também pareciam caminhar pensativos.
- Não acredito. Ela é um psicopata! – Natalie disse.
- Mas como você lembrou esse termo? – David indagou.
- Meu pai é psicólogo – ela contou. – E ele me disse que, um psicopata, ou sociopata, não tem uma noção muito grande de certo e errado, ele simplesmente vai lá e faz, são inconseqüentes por causa do ego grande, independente do que vai acontecer sabe. E eles são super inteligentes, por isso menosprezam os outros e se isolam.
- Tem certeza disso? – o garoto tornou a questionar.
- Não. Não me lembro bem o que meu pai me disse, mas foi algo mais ou menos assim. Acho que, como ela nasceu com toda essa maldade, ela deve ser uma espécie de psicopata. E ás vezes, independente do meio em que ela viveu, ela pode ter um senso afetado de bom e mau, por ter nascido da maldade de Alice – começou. – Muitos psicopatas se tornam o que são pro causa do meio em que vivem.
- Mas realmente esse pode não ter sido o caso dela – Emily concordou. – Eu dei uma estudada sobre isso.
- Como você pode estudar de tudo, mano? Que nerd! – Natalie exclamou, um tanto quanto brava.
- Se você não procura se informar o problema é seu – ela devolveu.
- Gente, será que a rainha banca é do bem? Ela parecia ser legal lá. Não, não é bem legal a palavra, sabe. Ela parecia... Estar fazendo a coisa certa – Jeanine perguntou aos demais.
- Para mim ela estava de aparências. Só para que a lagarta falasse o que ela queria sabe? – Emily observou.
- Ei, vocês escutaram isso? – Carol chamou.
Todos olharam para ela, que fez um sinal de silêncio com a o dedo indicador sob seus lábios.
Era um estranho som de passos. De repente Caroline foi ao chão.
- Ei, alguém me bateu! AI! – fora acertada novamente.
Edgard pôs-se à sua frente imediatamente, também sendo acertado na barriga, o que lhe causou uma grande dor, fazendo-o abaixar.
- Quem está aí? – ele gritou, enquanto era acertado no rosto.
Amy começou a pensar, repassou os dois livros até que encontrou quem os estava acertando.
- É o ninguém! Corre! – bradou.
Todos correram na direção em que estavam andando. Emily voltou, ajudando o casal a se levantar enquanto corriam, mancando. Uma pedra ergueu-se no ar e foi arremessada, acertando Edgard nas costas.
- Vamos! – a garota apressou. – ele não vai ser idiota de entrar no corredor dos fungos brilhantes, temos que ir, rápido.
Amy sentiu uma pancada em suas costas. Era mais uma pedra que fora arremessada.
- Vamos! Corre! Ele só vai parar quando... – começou.
- Eu posso enfrentar ele! – Edgard falou.
- Como que você vai lutar com ninguém? – Carol indagou, com a respiração ofegante.
David surgiu correndo na direção dos jovens.
- Vocês estão bem? – perguntou.
- Estamos sendo atacados! – Carol contou. – Continua correndo!
- Eu sei como podemos ver ele! – David disse, voltando a correr.
A velocidade do garoto foi aumentando, ele colocou seu ombro em frente ao seu corpo e deu de encontro com um grande cogumelo do tamanho de uma árvore que lá havia. A estrutura orgânica do fungo estremeceu, fazendo-o chacoalhar. Uma grande quantia de um estranho pólen saiu de seu topo, espalhando-se por todo o local, o que fez Emily e Edgard espirrarem quase que simultaneamente.
Entre o pólen, surgiu uma figura deforme, que afastava as partículas da poeira fungífera enquanto se movia.
David agarrou uma enorme pedra, que levantou com esforço. Ele retesou o pesado objeto e mirou.
A figura vinha em sua direção, fazendo o pólen se afastar. Ele arremessou a pedra, que acertou ninguém, fazendo com que a neblina que saíra do cogumelo ficasse estável.
Uma tossida em seco anunciou a presença de Jeanine.
- O que aconteceu aqui? – ela perguntou.
- David conseguiu... Ah, não tem nem como falar, mas ele provavelmente desmaiou a coisa invisível que estava perseguindo a gente – Edgard contou.
- É, é melhor irmos! Antes que a coisa acorde – Emily sugeriu pouco antes de espirrar novamente. – Onde está a Natalie? Todo esse pólen...
- Ela ficou esperando na trilha, melhor irmos, até minha garganta secou aqui – Jeanine falou. – Esse cheiro é enjoativo!
Eles tornaram a andar, um pouco mais depressa. Logo estavam longe da poeira, mas seu cheiro ainda podia ser sentido por causa dos outros cogumelos que os rodeava.


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Continua...
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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Capítulo XLIII ♥ ♠ Respostas e fumaça ♣ ♦

Emily se aproximou da borda do gigante cogumelo em que se encontrava.
- Nós temos um presente, mas não sei quantas perguntas ele vai valer – disse. – Analise esse charuto e diga quantas perguntas podemos fazer.
A garota fez um sinal à David, que se aproximou também, retirando o charuto de seu bolso. Ele retesou o braço e arremessou o pequeno objeto o mais longe que pôde. Uma gigantesca e esquelética mão ergueu-se e agarrou o fumo, logo em seguida o crânio surgiu novamente entre a fumaça. A mão se aproximou do mesmo, como se a lagarta o estivesse analisando.
- Sim, é isso. Acho que, por esta raridade, duas perguntas. Seriam quatro, se ele já não tivesse sido usado – a criatura falou calmamente.
- O que acontece quando um fragmento da Alice morre? – Amy indagou com a voz alta e trêmula, temendo a resposta.
A lagarta suspirou. A fumaça começou a se afastar, conforme um corpo rastejante ergueu o crânio. As mãos da criatura pousaram sobre o cogumelo, o que fez com que Emily se afastasse, desviando dos dedos, que aparentavam ter em torno de dois metros.
A caveira foi deixada sob o centro do cogumelo, e todo o resto foi se transformando, como se estivesse sendo absorvido pelo chão, primeiro pegando a cor da superfície em que tocava até desaparecer, como mágica.
Os jovens trocaram olhares assustados. Aquele pesadelo parecia nunca acabar.
O pedaço de esqueleto era maior que três deles juntos, como se os garotos tivessem o tamanho de meros insetos. Do orifício esquerdo em que se encontra o olho, surgiu uma lagarta, que arrastava consigo um narguilé azul. Vagarosamente seu corpo se locomovia sob a superfície do crânio até alcançar seu topo, onde ela se alojou e passou a tragar do objeto que carregava, liberando a fumaça um bom tempo depois.
- Quais serão suas perguntas, então? – a criatura disse, baforando fumaça nos jovens.
- Eu já disse! – Emily retrucou entre tossidas. – O que acontece quando um fragmento da Alice morre?
- Isso depende – respondeu, tragando novamente.
Ficaram encarando a lagarta em silencio.
- De que? – Natalie questionou.
- Se houver um fragmento receptor, todos os outros vão até ele, e uma vez completo... – tragou. – Bem, vocês podem imaginar.
- Mas o que acontece? – Carol indagou irritadiça com a fumaça.
- Não posso dizer – a criatura respondeu calmamente. – Vocês já fizeram suas duas perguntas.
- Não! Fizemos apenas uma! – Edgard protestou.
- Não, vocês fizeram duas. O que acontece com os fragmentos, e do que isso dependia. – o estranho inseto falante explicou.
Amy encarou o ser com pesar. Seu olhar voltou-se para os outros garotos, que deram de ombros.
- Ótimo! – ela começou, voltando a visualizar a lagarta em cima do crânio. – Se você quer trapacear, por mim tudo bem! Trapaceando até mesmo eu conseguiria charutos!
- Então trapaceie! – o inseto riu.
- Me desculpa, estou em outro nível – ela devolveu.
Emily virou-se, com os dedos cruzados para que sua idéia funcionasse, deu passos lentos e firmes até seus amigos até que a criatura a interrompeu com um grito:
- Tudo bem, tudo bem! Eu respondo outra! – a lagarta baforou.
Amy sorriu por um segundo, depois ficou séria para que a criatura não percebesse e voltou para próxima ao crânio.
- Quem é aquela menina que parece a Alice? – disse de uma vez, quase que atropelando as palavras com o nervosismo.
- Ela é outro fragmento da Alice, porém ela é um fragmento diferente – começou. – Enquanto cada um de vocês ficou com uma das características da personagem, como por exemplo, a curiosidade, a sinceridade, a esperteza, a teimosia, entre diversas outras, ela é o fragmento que ficou com todas as coisas ruins. Toda a perversão do conto, todo o horror envolvido, a confusão, a tristeza, ficaram nela, portanto ela seria, no mundo de vocês, como eles dizem mesmo?
- Psicopata? – Natalie disse em tom de pergunta.
- Mais nenhuma pergunta para vocês – a lagarta encerrou, dando uma ultima tragada e depois entrando no crânio através do orifício do olho, de onde saiu fumaça após alguns segundos.
- Melhor irmos, temos um cogumelo para encontrar! – David chamou, enquanto Emily se afastava.
Os jovens começaram a andar, rumando a um estranho brilho ao longe.

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Continua

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Capítulo XLII ♥ ♠ O Lado da Lagarta ♣ ♦


Todos tocaram o espelho ao mesmo tempo. E de olhos abertos, Emily pôde ver sua realidade se tornar o País das Maravilhas. A cama tornou-se uma grande pedra, o chão ficou todo arenoso, mas logo o pó se transformou em uma densa terra. O computador, o guarda-roupa, os abajures, todos os móveis foram pegando uma textura orgânica, e quando menos era possível perceber, haviam sido convertidos a cogumelos e fungos.
As paredes já não estavam mais lá, entretanto não era possível ver o céu, por causa da neblina que pairava o ambiente. Um doce cheiro de grama misturado ao incerto aroma dos tortulhos.
- E aqui estamos novamente... – Jeanine suspirou.
- Vamos, quanto menos ficarmos por aqui, melhor! – Edgard disse, já começando a caminhar por uma pequena estradinha sem cogumelos que os levou à lagarta da outra vez.
A caminhada já estava durando um bom tempo, a névoa estava se tornando cada vez mais densa, e logo os jovens já estavam todos com as lanternas ligadas.
- Estou com medo – Natalie admitiu. – esse lugar aqui é tenebroso!
- É mesmo, vocês nunca tinham vindo aqui ainda – Emily admirou. – Logo logo o cheiro começa a piorar.
E não demorou muito para que um fedor de tabaco tomasse conta do ambiente.
Os caminhos passaram a se confundir e subir era como andar para a frente, caso subissem, provavelmente estariam descendo, e andar para os lados era como se estivessem todos andando de ré. Andavam e andavam e andavam, e a impressão era a que estavam andando por uma parede, suspensos no ar.
Logo todo esse tipo de sensações acabou, e os garotos se viram em cima de um grande cogumelo. Mas não estavam sozinhos.
- Eu tenho mais perguntas para fazer – uma fina voz feminina exigiu.
- Isso já não é meu problema, responderei apenas a mais duas e depois calo a minha boca! – a lagarta respondeu.
- O que vamos fazer? – David questionou em um sussurro, com os olhos arregalados.
- Fique quieto e pare de se mexer para não afastar a fumaça! Deixemos a fumaça ficar em volta de nosso corpo e assim não seremos percebidos! – Emily ordenou.
Todos se mobilizaram e logo a fumaça foi se expandindo, até tomar a forma dos jovens, que já não estavam enxergando mais nada, além das lanternas estarem desligadas.
- Quem envenenou a Rainha Vermelha? – a voz fina disse.
- Quem me pagou o suficiente para eu dizer outra coisa para a Rainha Vermelha. Pensei que você, Rainha Branca, fosse um pouco mais esperta do que isso.
- E você quer ser o causador de uma guerra? A essa altura do campeonato? – a rainha reclamou em um brado.
- Eu estou do meu próprio lado. Quem pagar mais leva o prêmio e é assim que as coisas funcionam! – a voz da lagarta soou, alta e forte.
- Esse é o seu lar. Parece que você quer destruir tudo! Uma guerra só vai ajudar a matar mais e mais criaturas do País das Maravilhas!
- Sim. E quanto menos melhor. Quanto menos criaturas vivas, menos almas corrompidas, e além do mais, seria muito melhor se você e sua irmã morressem. Isso sim acabaria com todo mal que tem tomado conta desse lugar! Eu quero sim ser o causador de uma guerra que vai salvar esse lugar! – a lagarta vociferou.
- Então é isso! – Amy cochichou. – Ela só finge não estar de nenhum lado! Ela na verdade também não está corrompida, somente luta pelo que acredita que vai ajudar o País das Maravilhas! – exclamou, surpresa com o que a criatura dissera.
- Como pode! Como pode? Devolva o presente! Devolva já, nesse instante! – a rainha branca gritou com sua voz aguda.
- Não. Saia de meu território, você que o está invadindo! – a criatura respondeu.
O coração de Emily batia fortemente em seu peito, o nervosismo estava tomando conta de seu corpo, tanto que suas pernas mal a conseguiam suportar. Ela quase podia ouvir sua própria pulsação.
De repente uma pequena quantia de névoa se dissipou. Um xale branco passou, cortando o céu, e Amy pôde ver a silhueta de um pequeno bode, que corria atrás do mesmo. Estranhamente o animal estava gritando:
- Você fez a escolha errada! Se você me ajudasse seria bem melhor para você! Bem MEElhor! MEElhor! MÉE! MÉE!
Enfim o silêncio tomou conta do local. Era como se nada mais existisse ali além da fumaça. Ninguém tinha coragem de se revelar, mal conseguiam se mover.
Um forte vento começou, o que fez com que a fumaça que rodeava os jovens fosse desfeita. Era a criatura que estava soprando para que os jovens fossem mostrados.
- Vocês estavam ouvindo tudo! – a lagarta exclamou, fitando aos garotos com dois pequeninos olhos negros que eram vistos atrás da carcaça de crânio humano que cobria sua face.
- Sim. Estávamos – Emily disse, com a voz trêmula de medo e adrenalina.
- Isso não vai mudar nada. Vocês ainda têm que pagar para receber informações, caso as queiram, claro – a criatura falou, já se afastando do grande cogumelo em que eles estavam.
Todos se entreolharam. Parecia que o coração no peito de cada um estava prestes a explodir. Quase que podiam sentir os batimentos uns dos outros. Era chegado a hora de sanar mais algumas de suas dúvidas.



♥ ♠ Continua... ♣ ♦

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Capítulo XLI ♥ ♠ Noite em Claro ♦ ♣


Emily acordou de um sonho estranho, em que via a Rainha Branca correndo atrás de seu xale, como na história, em um campo todo feito de pedras que se intercalavam entre vermelho e branco. Estranhamente durante o sonho, o xale branco se tornava um grande pássaro pálido, que logo ganhava uma coloração rubra e dourada. Era como se Amy assistisse isso tudo de uma montanha, vendo o pássaro cruzar o céu negro e poluído, até chegar ao ombro da Rainha Vermelha.
Ela levantou-se da cama, e caminhou até a cozinha, onde tomou um copo de água e pegou outro para levar ao quarto, bebendo aos poucos, em goles rasos.
O relógio dizia que eram três horas da manhã, mas a adrenalina que corria pela garota era tanta que ela nem conseguiria dormir novamente. Sentou-se na cadeira do computador e lá ficou encarando o nada, com o copo em mãos.
O que poderia acontecer se um dos fragmentos morresse?
Depois de uma longa hora, Emily se deitou em sua cama, mas continuou olhando para o teto por mais um longo tempo.
Amanheceu o dia, e ela estava a ler de novo o conto de Lewis Carroll. Sua mãe apareceu na porta, bocejando de sono.
- O que você está fazendo? Caiu da cama? – perguntou, sonolenta.
- Não. Resolvi acordar cedo. Preciso só esperar dar às oito horas para poder ir a uma loja – explicou.
- O que você está aprontando? – a mãe indagou, sentando-se na cama ao lado da filha.
- O aniversário de uns amigos meus está chegando.
A mãe deu um beijo na testa da filha e depois saiu.
Emily pegou umas folhas que havia imprimido no dia anterior sobre psicopatia para estudar novamente. Seus olhos cansados corriam linha por linha.
Mais tempo e uma alegre música começa a soar do despertador. Oito horas. A garota levantou-se em um pulo e correu ao guarda-roupa. Trocou-se rapidamente, escovou os dentes e lavou o rosto com a água gélida.
Saiu andando apressadamente pelas ruas, quase correndo, enquanto via borrões de pessoas que passavam à medida de seus passos.
Na loja, seu coração batia tão fortemente que ela teve grandes problemas em conseguir comprar as lanternas para seus colegas. As palavras lhe fugiam enquanto o atendente confuso tentava decifrar o que a garota queria.
Comprada a iluminação ela partiu em direção à casa de Carol. Sua ansiedade estava tão alto que em certo trecho do caminho Amy apressou o passo a ponto de começar a correr.
Trombou com o portão e o ficou encarando por certo tempo enquanto tentava acalmar sua respiração ofegante.
- O que está acontecendo? – Natalie disse, assustando Emily, que arregalou os olhos, amedrontada.
- Não sei. Não estou me sentindo muito bem – contou.
- Fique fria. Ficar nervosa só vai piorar as coisas! – a outra jovem disse, tentando acalmá-la.
- Eu sei. Estou tentando! – Amy respondeu, grosseira.
- Ontem eu lembrei de você – Natalie contou, antes que Emily tocasse a campainha.
- Porque?
- Estava passando um jogo de críquete na televisão. Não sei porque, mas eu lembrei de você quando vi – disse.
- Deve ser por causa da Alice.Que engraçado – a garota falou amigavelmente enquanto tocava a campainha.
Caroline foi atender elas. A jovem parecia tão nervosa quando ambas, e foi logo dizendo enquanto ainda abria o cadeado.
- Já estão todos aqui. Tá todo mundo morrendo de medo. Faltavam só vocês duas. Trouxe as lanternas?
- Trouxe.
Estava todo mundo no quarto, que parecia muito diferente da ultima vez em que tinham estado lá.
- Nossa Carol, como seu quarto está diferente – Emily deixou-se exclamar diante do nervosismo.
- É. Eu pintei as paredes. Queria o quarto mais claro depois de tudo que a gente passou. Estou dormindo com a luz acesa ultimamente – admitiu.
- Prontos então – Edgard evocou.
- Não! Calma – Amy disse. – Preciso de uns minutinhos.
Ela fechou os olhos, e de olhos fechados entrou as lanternas e suas respectivas pilhas. Agarrou sua iluminação também e começou uma contagem regressiva a partir do cinqüenta. Sua mão tremia. Conforme os números chegavam ao fim, a velocidade da contagem ia diminuindo.
- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um – e deu um forte suspiro. - Lembrou de trazer o charuto? – perguntou a David sem abrir os olhos ainda.
- Sim – o garoto respondeu.
Emily abriu os olhos. Todos a estavam encarando.
- Hora de entrar – ela finalmente falou.





♥ ♠ Continua... ♣ ♦

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Capítulo XL ♥ ♠ Traçando um plano ♣ ♦



- Qual sua idéia Nat? – Emily indagou.
- É uma idéia bem simples, de desenho animado mesmo, mas que pode funcionar. Nós vamos ter que nos separar e procurar pelo cogumelo, separados, cobrimos uma área maior em um tempo menor – a garota contou.
- Mas e como vamos saber quando um achou? Seria meio que ás cegas decidir a hora de voltar. E se um encontrar rapidinho e deixar os outros correndo risco lá procurando por muito mais tempo? – David questionou.
- É por isso que precisamos das lanternas. Quem encontrasse balançaria a lanterna no ar e só pararia até as outras pessoas balançarem de volta – Natalie explicou.
- Não sei. Me parece perigoso! – o jovem tornou a reclamar.
- Eu nunca disse que não era – ela respondeu malcriada.
- É. Realmente me parece um plano viável. Vamos torcer para que dê tudo certo – Emily falou.
Um silêncio tomou o local da reunião por longos e intermináveis segundos.
- Quem queremos enganar – Jeanine disse já quase caindo no choro. – Alguma coisa com certeza vai dar errado!
- É nosso melhor plano até agora. Vamos fazer o seguinte então – Amy começou, com os olhos marejados. – Amanhã eu vou passar na loja depois da escola e vou comprar as lanternas para o David e para a Natalie, depois, à noite, nos reunimos na casa da Carol por volta das nove horas, nove e meia, então vamos para o País das Maravilhas. Lá, falaremos com a lagarta e vamos perguntar o que acontece quando um dos fragmentos de Alice morre com o charuto do homem ovo. Se sobrar uma pergunta, vamos saber quem é a menina que eles viram no shopping – apontou para os dois jovens que haviam acabado de voltar do passeio. – Depois nos separamos e procuramos pelo tal cogumelo! – Ao terminar de pronunciar tais palavras, duas espessas lágrimas correram pelas bochechas rosadas da garota.
Todos permaneceram calados, assustados com o que lhes poderia ocorrer quando entrassem no País das Maravilhas novamente.


♥ ♠ Continua... ♣ ♦

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Capítulo XXXIX ♥ ♠ Reunião ♣ ♦



A campainha logo tocou, e em menos tempo, Natalie e David estavam aconchegados no quarto de Jeanine. A garota havia se sentado ao lado de Amy, na cama, enquanto o jovem contentou-se com uma pequena cadeira de madeira avermelhada que fora retirada do conjunto da sala de jantar.
- Você acha que Carol e Edgard vão demorar muito a chegar? – ela perguntou para a anfitriã.
- Não sei. Quando conseguimos conversar com eles, já fazia um tempinho que tínhamos nos falado pelo telefone – a jovem sentada em frente ao computador respondeu.
De repente, Emily saiu do recinto rapidamente. Levantou-se da cama e atravessou o quarto em um único passo, e com a mesma velocidade que abriu a porta, a fechou, cobrindo ao rosto com seu outro braço.
Jeanine assustou com a reação repentina de sua amiga, e como em um reflexo natural, levantou-se da cadeira e foi atrás dela, deixando os outros dois colegas para trás, seguindo para um breve corredor que levava para a pequena varanda de sua casa.
- Ei, Amy, o que aconteceu? Porque você ficou assim de repente? – disse em um tom de voz bem alto enquanto ia em direção à garota.
A jovem ouviu um leve gemido choroso lá fora, e sem demora, estava atravessando a porta da frente de sua moradia, encontrando uma Emily quebrada, triste e bisonha, encolhida em um canto com o rosto entre os joelhos.
- Amiga, o que aconteceu, porque você ficou assim? – tornou a indagar.
- Eu não quero dizer que você ou Edgard, ou qualquer um aqui não esteja sofrendo ou passando por momentos muito difíceis. Só que as coisas que eu vi, que eu presenciei... – a garota desabafou entre choro, sem olhar para a amiga.
- Eu sei, eu entendo você. Foi você que encontrou a carta do grifo, foi você que foi procurar o gato por si só, foi você que presenciou aquele pesadelo horrível na casa da Duquesa e ainda teve coragem de sobra para cuidar dos três outros fragmentos, quando sozinhos, tenho certeza que iriam acabar morrendo lá nas mãos da cozinheira. Dá para entender muito bem a sua angústia Amy. Só que é bem aquilo que você acabou de me dizer... Todos nós estamos vivenciando isso juntos – Jeanine disse, com voz serena. – Estamos enfrentando tudo isso unidos, e unidos sairemos bem dessa enrascada!
Emily levantou sua face para encarar a colega, que já estava ajoelhada ao seu lado.
- Não tenho tanta certeza que vamos ficar tão bem assim. Tivemos muita sorte até agora! – disse, melancólica. – Eu me desgastei, alguma coisa se quebrou.
As garotas se abraçaram, abaixadas na varanda.
- O que está quebrado, Emily? – Jeanine questionou.
- Eu estou. – a outra jovem respondeu, aos soluços.
Um som de passos apressados afastou as amigas, e recompôs Amy.
- Jea? – Edgard gritou ao portão quase sem fôlego.
- Vocês deviam ter vergonha de si mesmos! – Emily censurou, rabugenta.
- Deixe a bronca para depois! Temos coisas muito importantes para contar! – Carol apartou.
Imediatamente estavam todos reunidos novamente no quarto. Quando a porta se abriu, todos se depararam com um desconsolado abraço entre Natalie e David, que pareciam estar muito tristes também.
- Olha. Vou ser bem franco com todos vocês – Ed. começou. – Eu e a Caroline meio que marcamos um encontro a um tempo atrás, lá no hospital. Então combinamos e tal, aí hoje a gente foi até lá no shopping para passear, arear a mente, tentar, não sei, esquecer tudo isso aqui por um minuto sabe? Só que quando estávamos lá, encontramos a pracinha que tem lá ao ar livre, em reforma. Tinha umas tábuas de madeira revestindo tudo por lá, e tinha também um buraco. Pelo buraco, eu e Carol vimos lá dentro da construção, a menininha loira e de vestidinho azul que ela viu na igreja. A menininha estava segurando uma vela preta acesa. Foi muito estranho – concluiu.
- Não sei. Essa garotinha deve ter alguma coisa a mais de importante! – Natalie comentou.
- É, provavelmente tem! – David concordou.
Todos ficaram emudecidos por alguns segundos, maquinando as informações que o garoto acabara de passar.
- E o que você tinha a dizer? – Caroline indagou.
- Eu descobri como vamos salvar Bill. Mas vai ser muito, muito difícil! – Emily iniciou. – E além disso, também descobrimos que o coelho, quando fica no nosso mundo, deixa Robert enjaulado lá no País das Maravilhas, mas lá, ele tem um grande informante, além do gato.
- E quem seria esse informante? – David perguntou, levantando uma de suas sobrancelhas.
- Não sabemos, ele não teve tempo de nos contar – Jeanine explicou.
- Então tudo bem, mas e sobre Bill? – o jovem tornou a inquirir.
- Bill precisa de um cogumelo muito especial que somente cresce na vila dos cogumelos que brilham. Só que, como vocês viram aquele dia, os cogumelos brilhosos colocam à pele, alguns segredinhos que estavam meio ocultos. Só que o gato me disse que depois de por os desejos que estão mais próximos da superfície, eles começam a revelar desejos mais complexos, até levar para a total depressão do interior das pessoas, portanto quem fica muito tempo por lá acaba, digamos assim, se matando – Amy explicou. – Então, precisamos procurar esse cogumelo com muita rapidez, precisamos bolar um plano que nos exponha o mínimo possível ao risco de acabarmos mortos por lá.
Mais uma vez o silêncio tomou o local, até que Natalie tomou a palavra:
- Talvez... Talvez eu tenha a solução – falou pausadamente.



♥ ♠ Continua... ♣ ♦

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Capítulo XXXVIII ♥ ♠ Correio Eletrônico ♣ ♦


Jeanine e Emily estavam abismadas, bufando de pouco em pouco com a atitude de seus outros dois inalcançáveis colegas.
- Ele não falou mesmo para onde ia? – Amy indagou.
- Não. Eu acho assim que eles foram ao shopping, porque meu irmão gosta de lá, mas não tenho muita certeza.
- Eles não atendem o celular de jeito nenhum!
- Mas e os outros dois? – a outra garota perguntou.
- Natalie e David estão a caminho.
Enquanto dialogavam, Jeanine digitava a senha e confirmava sua entrada na caixa de e-mails. Emily deitou-se na cama, suspirando fundo enquanto encarava o teto.
- EI! Ei! – a jovem em frente ao computador gritou.
- O que foi? – Amy disse, assustada, enquanto sentava-se rapidamente na cama.
- Veja esse e-mail que o Robert enviou para mim! Ó, vou ler para você.
“Jeanine, temos um grande problema. Vou explicar bem resumido, desde o começo antes que o coelho volte. A Rainha Vermelha ficou muito, muito doente, todos achavam que ela ia morrer. Então ela foi notificada pela lagarta que quem fez isso foi a Rainha Branca, além de tudo ela comprou a cura. Agora ela está caçando a Rainha Branca e quer começar uma nova guerra. As guerras aqui são solucionadas em um grande campo, onde cada lote separado por rios, representa uma casa. Só para lembrar, o peão que atravessar os oito campos, se torna uma rainha. As pré-seleções começaram, vocês devem descobrir onde que está acontecendo logo! O gato me disse que ele não está conseguindo descobrir onde que é, pois a Rainha não divulga o local para todos. Sempre que ela usa mensageiros, não deixa que escapem com vida exatamente para que ninguém de fora descubra”.
- Por isso a duquesa matou o sapo e o peixe! – Emily exclamou.
- Vou responder o e-mail dele. Vou perguntar como que ele consegue descobrir tudo isso e onde que ele fica quando está no País das Maravilhas – Jeanine falou, já começando a digitar.
- Isso, pergunta sim!
Uma melodia de piano começou a soar baixa pelo quarto. As garotas se entreolharam.
- É o meu celular – Amy contou, retirando o aparelho do bolso e olhando para o mesmo. – E é do número da Carol!
- Atende! – a outra jovem sugeriu.
Emily pressionou um dos botões e levou-o aos ouvidos.
- Oi Carol – cumprimentou.
- Onde você está? – a garota questionou do outro lado da linha.
- Estou na casa da Jeanine, onde vocês estão? – ela respondeu com um tom de voz repressor.
- Estamos a caminho! Umas coisas muito sérias aconteceram! – Caroline disse, afobada.
- Venham logo! Já estamos esperando a Natalie e o David. Eu descobri como salvar o Bill.
- Já, já, então, estamos aí – a outra jovem disse, desligando.
- O que aconteceu? – Jeanine questionou, enquanto Amy guardava seu celular no bolso.
- Eu não sei, mas Carol parecia estar muito assustada.
Um estranho e breve som foi emitido pelo computador.
- Robert já respondeu! – a garota em frente ao computador falou, logo começando a ler o e-mail em voz alta.
“Quando estou no país das maravilhas, o coelho me mantém em uma jaula. Quem me passa as informações todas é o gato para eu me manter notificado, e algumas, como esta, ele disse que já tinha contado para a Emily, mas que não sabia se ela já tinha passado para o resto, então decidi notificar você. Algumas coisas quem me conta é”.
- Acaba aqui. Acho que o coelho começou a voltar então Robert teve que enviar e depois largar o computador no susto - Jeanine supôs.
- Esse gato é bem espertinho... – Emily comentou. - Mas quem será que conta as coisas para o Robert?



♥♠ Continua... ♣♦

terça-feira, 13 de abril de 2010

Capítulo XXXVII ♥ ♠ O Passeio ♣ ♦



- Você esqueceu seu celular? – Edgard indagou tristemente.
- Não esqueci... Deixei em minha casa de propósito. Mas se a Amy ou qualquer outro perguntar, esquecemos. Desliga o seu também – Carol implorou.
Estavam ambos andando por um longo corredor cercado de lojas. O garoto puxou o telefone do bolso e simplesmente deixou-o escorregar para dentro de uma das lixeiras.
- Não! Porque você fez isso? – a jovem questionou surpresa pela ação de Ed.
- Estou cansado de toda essa bosta de país das maravilhas, de Alice, de personagens que eram para supostamente serem fictícios tentando matar a gente.
- Entendo – Carol concordou.
- E é tudo tão confuso! Esse negócio todo do porque de estarmos lá me deixa sem cabelos! Alice se fragmentou, o país das maravilhas se materializou... Não consigo ver a relação! – ele desabafou.
A garota calmamente pegou sua mão, os passos foram desacelerando.
- Vamos esquecer tudo isso por enquanto. Vamos simplesmente tentar... esvaziar nossa mente. Por favor – disse, fitando-o nos olhos. – Eu não aguento mais!
Edgard sorriu. Eles logo voltaram ao passeio.
O casal entrou em uma das lojas de brinquedos, e ficou um bom tempo olhando as pelúcias. Carol levou uma câmera fotográfica digital, portanto tirou diversas fotos junto aos brinquedos, disfarçando para que os atendentes não percebessem. Ed. também fez o mesmo a pedido da jovem aos risos.
Foram a uma loja de roupas. Nada compraram, apenas experimentaram as roupas que mais lhe pareciam engraçadas. A jovem caiu na gargalhada quando o garoto apareceu usando uma jaqueta cor-de-rosa.
Estavam na fila para comprar sorvete quando Edgard fez uma sugestão:
- E se depois a gente fosse até aquela praça que tem na frente da livraria para tomar o sorvete? Lá no centro do Shopping onde é ao ar livre, sabe?
- Ah, claro! Eu gosto bastante de lá. Depois a gente dá uma passadinha na livraria. Vir no shopping sem passar lá é que nem se não tivéssemos vindo – falou, sorrindo.
Caminhavam pelo corredor de lojas lentamente enquanto conversavam sobre filmes e músicas. De repente Carol parou. Ed. prestou atenção, seguindo o olhar da garota. Era a praça a qual estavam indo, toda cercada por longas paredes finas de madeira, circulada com uma faixa amarela. Havia um segurança parado em pé lá perto. O casal foi em sua direção.
- Com licença, senhor – a jovem chamou. – Porque a praça está interditada?
- Estão fazendo uma reforma. O shopping estava tendo problemas com chuvas aqui dentro, me parece que os ralos não estavam dando conta – o homem respondeu.
- Ah, obrigada pela informação – ela agradeceu sorrindo.
O segurança apenas fez um aceno com a cabeça como resposta. Tornaram a caminhar ao redor do local.
- O que será que pretendem fazer? – Edgard perguntou.
- Acho que vão colocar algum teto, não sei. Olha... Tem um buraquinho na madeira ali – disse enquanto apontava com o indicador. – Da uma olhada no que estão aprontando.
O jovem concordou com um aceno e foi logo na direção que Carol apontou.
Lá havia uma pequena rachadura farpada na fina madeira. Ed. aproximou seu rosto e fechou um de seus olhos para poder enxergar melhor.
Ele viu as mesmas plantas de sempre, com os bancos de madeira avermelhada, o piso branco e a fonte no centro. Logo ficou espantado. Uma garotinha de cabelos dourados e vestido azul levantou-se detrás da fonte segurando em uma de suas mãos uma estranha vela preta acesa.
- Carol! Carol! – o garoto chamou quase que aos berros.
Ela se aproximou rapidamente com uma careta de preocupação.
- O que foi? O que foi?
- A garotinha que você viu. A que disse que... Ela está ali! – ele explicou tão rápido que parecia atropelar as palavras.
- Deixe-me ver – ela disse, aproximando o olhar na direção do buraco.
A única coisa que Caroline conseguiu ver foi um olho azul que os observava. A jovem se afastou.
- Quem é você? E o que você quer!? – gritou para o ar.
Uma fina gargalhada foi escutada como resposta. Tal gargalhada fez a espinha de Edgard gelar. Um estranho sentimento de angustia tomou conta do rapaz.
Carol espiou novamente pelo buraco e nada viu além da praça vazia.
O casal se abraçou.
- Quando a realidade se torna insuportável, as pessoas fogem para a fantasia. O que acontece quando a fantasia se torna insuportável e está em toda a realidade? – Edgard questionou-se em voz alta.
A garota nada respondeu, apenas abraçou-o fortemente, fechando seus olhos.


♥ ♠ Continua... ♣ ♦

sábado, 27 de março de 2010

Capítulo XXXVI ♥ ♠ A Solução ♣ ♦



- Não, não vou passar por tudo aquilo de novo! – Emily disse em tom determinado.
A garota agarrou seu espelho firmemente e foi logo aproximando seus dedos ao seu reflexo. Parou. Escutou algo.
- O que você está fazendo aqui? – a voz do gato surgiu.
- Eu vim atrás de você! Precisamos conversar! E depois do que o pobre sapo me disse, precisamos conversar em dobro – ela cochichou para o ar, procurando pelo felino com sua lanterna.
Mechas de pelo começaram a brilhar em frente á jovem. Ela apontou a luz para aquele ponto, vendo a figura surgir gradativamente.
- Veio em uma péssima hora em um péssimo lugar! Como você veio parar aqui? – ele disse, caminhando ao final do corredor.
Amy começou a seguir o gato.
- Eu não sei. Era para eu supostamente parar na floresta – a garota falou, pensando por alguns segundos. – Droga, esqueci que as escalas não estão corretas! Burra! – xingou-se.
- antes de conversarmos precisamos sair daqui. Vamos pela saída do salão de festas. Lá não tem muro para nos atrapalhar – o gato explicou.
Amy prosseguiu atrás dos passos quietos, lentos e cuidadosos do felino. Sua lanterna iluminava as paredes, onde a garota observava terríveis ilustrações.
Crianças decapitadas com o desenho de um padre ao fundo rindo. Pessoas com agulhas por todo o corpo com caretas doloridas. O corpo de uma jovem sendo pisoteado por uma mulher vestindo um sapato de metal cheio de lâminas em sua parte inferior. Um jovem sendo torturado com seus membros amarrados a uma manivela, com seu corpo todo esticado e uma expressão de dor enquanto outro garoto assiste encolhido em um canto da sala imunda, chorando.
Emily estava ficando cada vez mais chocada com o que via nos quadros. Eles eram tão reais que pareciam se mexer. Ela quase podia ouvir o som daqueles lugares horríveis. Não, ela realmente estava ouvindo. Os quadros estavam mesmo em movimento e emitindo terríveis choros de dor, risos, gritos. Amy levou as duas mãos aos ouvidos e seus olhos ficaram marejados.
- Emily... Emily – o felino chamou, sem ser ouvido. – Emily!
- Oi... O que? O que foi? – ela disse, voltando a si.
- Não olhe para os quadros! Apenas me siga! – afirmou, sério.
A jovem deu uma ultima olhada ao seu redor, vendo apenas quadros bizarros e estáticos. Depois, voltou seu olhar ao gato, que andava e andava por imensos e longos corredores.
Ele abria as portas com um estranho miado longo. E assim prosseguiram até que a garota reconheceu o local que se encontrava.
- O corredor em “L” – deixou-se dizer em voz alta.
Ao longe, ela começou a ouvir gritos e mais gritos abafados pela distancia, o que a assustou, fazendo-a olhar para trás.
- E lá se vai o peixe – o gato falou, miando logo em seguida para abrir a porta ao salão de festas da Duquesa.
Sem demora, os dois atravessaram o local. Amy fazia um careta de nojo a cada passo que dava, e observava os pisos com muito desprazer.
Mais um miado para a porta da varanda e estavam fora.
- Ai! Enfim estamos fora – a jovem disse, aliviada.
Ela não pôde evitar olhar para o rio ao lado da casa, onde a água era totalmente vermelha, e hora ou outra, pedaços de corpos surgiam entre a correnteza a muitas vezes paravam nas margens.
- Pare de olhar Emily! Não se deixe corromper por esse país! – o felino vozeou.
Logo que estavam rodeados por árvores, Amy pôs-se a falar:
- Escuta. Olha só. O Bill, nosso amigo que foi esfaqueado pela cozinheira, está muito mal, muito mesmo, cada hora que se passa ele vai piorando. E eu acho, que tinha alguma coisa daqui do País das Maravilhas naquela ferida, porque não acertou nenhum órgão dele e mesmo assim ele vai piorando e piorando. Nós ficamos de mãos atadas lá – ela colocou.
O gato passou alguns minutos de silêncio, maquinando uma resposta, até que enfim disse:
- Já sei o que é. A Duquesa tem o costume de comer um tipo especial de pimenta aqui do País das Maravilhas. Porém, a casca dessa pimenta é venenosa e deve ser retirada com muito, muito cuidado. Provavelmente a lâmina da cozinheira estava com restos de cascas da pimenta. – ele explicou.
- Mas a duquesa lambeu a lâmina depois! – a garota objetou.
- Sim. Depois que os resíduos ficaram em Bill ela lambeu mesmo. Se bem que depois de tanto comer a pimenta, talvez a casca nem a afete mais – ele definiu.
- Entendo. Em meu mundo também tem dessas coisas. Tipo o baiacu. Mas comer tanto baiacu não deixa as pessoas imunes ao seu veneno – a jovem contou. – Existe uma cura? Algum soro... Sei lá.
- Sim. Existe uma espécie de cogumelo que pode curar seu amigo. Mas pegá-lo pode ser muito perigoso, e não dá para fazer isso sozinho – o gato continuou. – Esse cogumelo somente surge na floresta dos fungos. E ele fica junto aos outros cogumelos brilhantes. Não se pode ir lá sozinho, pois sem outras pessoas junto á você, a conduta simplesmente vai-se embora, então você pode aflorar seus sentimentos de depressão e de desejo de morte. É muito perigoso, pois isso pode ocorrer naturalmente, mesmo com outras pessoas junto mantendo sua conduta.
- Se em grupo, primeiro surgem os desejos á margem, como por exemplo, a atração de Edgard por Carol e de Carol por Ed., depois, vem surgindo os desejos mais profundos, a pessoa diz tudo o que lhe vem à mente. Cada pensamento que surge, é dito. Até que surgem as frustrações.
- Parece ser horrível! – Amy exclamou. – Mas como sabemos qual cogumelo é este? E como Bill deve ingerir ele?
- Vocês saberão que é ele, pois seu brilho é avermelhado, e ele possui diversas manchas brancas em sua cabeça. Apenas faça Bill comer ele. Se ele sobreviver às alucinações, estará curado.
- Quanto tempo ele ainda tem? – ela indagou.
- Em uma semana, o envenenamento chegará a sua fase crítica. Recomendo que procurem pelo cogumelo o quanto antes – o felino sugeriu. – E qual era sua segunda pergunta?
- O que é esse tal de jogo de xadrez que o sapo falou?
O gato olhou para cima, observando as luas vermelhas através dos galhos, suspirou e fechou os olhos antes de responder:
- Uma nova batalha começou. Todos que querem se voluntariar são peões. O resto é convocado.
- Como quando Alice se tornou uma rainha! Mas porque isso vai acontecer?
- A Rainha Vermelha recebeu informações que quem a deixou doente foi A Rainha branca. Comprando cogumelos caros e poderosíssimos da lagarta, além de informações, ela conseguiu se recuperar. Agora quer capturar sua irmã, e levá-la ao seu tribunal – o felino explicou.
- Se uma nova batalha realmente começar, podemos ser peões e se um de nós chegar ao outro lado do tabuleiro viraríamos uma Rainha, e assim poderíamos salvar esse mundo! – Emily exclamou quase aos gritos.
- Já esperava que chegasse a essa conclusão – o gato disse, monótono. – É muito, muito, mas muito perigoso. Não quero que participem, nossas chances são maiores se não o fizerem!
- Mas se um de nós conseguisse a coroa, isso tudo teria um fim! – a garota tornou a dizer.
Os pelos do gato foram sumindo, até ficar seu focinho flutuando no ar.
- Pense muito, muito bem antes de tomar uma decisão drástica como essa – disse, desaparecendo de vez.
Emily ficou algum tempo encarando o nada, apenas pensando, antes de tocar seu espelho novamente.


♥ ♠ Continua... ♣ ♦

domingo, 21 de março de 2010

Capítulo XXXV ♥ ♠ O Mensageiro Real ♣ ♦


Emily vagava pelas vazias ruas noturnas sem companhia alguma. O silêncio tomava conta da cidade.
A garota sentia muita dificuldade em enxergar o caminho à sua frente, pois as ruas estavam apenas levemente iluminadas por postes de uma fraca luz amarelada. Ela ainda carregava consigo a lanterna e as pilhas, as quais salvaram sua vida e as de seus companheiros uma vez.
Em mãos, ela estava com um mapa impresso. Emily havia tirado uma foto dos mapas sobrepostos, e a imprimiu após passar para o computador, tudo no maior silêncio possível para que seus pais não percebessem.
Parou em frente a uma locadora de filmes e CDs de música que havia lá no bairro. Segundo seu mapa, tocando seu espelho naquele ponto, ela estaria logo na floresta do gato.
A jovem se retesou. Seu coração batia rápida e intensamente, tão intenso que Amy podia quase ouvir nitidamente cada pulsação.
De leve, ela foi aproximando o toque ao seu reflexo. Fechou os olhos, amedrontada, até que os dois estivessem juntos. Seus dedos lançaram-se firmes ao espelho.
Um terrível cheiro putrefato invadiu as narinas de Amy. Lentamente seus olhos foram se abrindo novamente, dando lugar a uma terrível expressão de medo. Ela nada enxergava ainda. O local onde estava era tão escuro quanto uma floresta nunca seria, portanto seu plano havia dado errado.
Rapidamente suas mãos buscaram a lanterna, acesa ás pressas. Conforme a luz invadia o local, Emily enchia-se com o pavor. Um intenso arrepio cortou-lhe a espinha.
Aquela parecia ser uma câmara de tortura. Havia diversos maquinários tortuosos por todo o local.
Apavorada, a garota começou a procurar por uma porta. Sua lanterna movia-se ligeiramente através daquele lugar, iluminando, por vezes, diversos objetos pontiagudos, camas de madeira cheias de manivelas, cadeira com espinhos por toda superfície, baldes, estacas...
- A porta! – Emily pegou-se a exclamar. Seus passos foram apressados até a porta, porém ela parou repentinamente. Ouvia grunhidos e gritos que pareciam se aproximar cada vez mais daquele ambiente.
A jovem desesperou-se. Suas pernas estavam amolecidas, e lágrimas corriam por seu rosto. Ela logo iluminou um grande sarcófago entreaberto. Seu interior era repleto de espinhos, mas ela tinha espaço suficiente para se esconder lá.
Sentou-se, abraçou os joelhos e desligou a lanterna. A porta se abriu e uma intensa gritaria começou.
“Eu não deveria ter vindo! Péssima idéia! Péssima idéia!” ela repetia insistentemente em sua mente enquanto os gritos se tornavam cada vez mais altos.
- Não se esqueça de colocar um balde aqui e outro por aqui – ouviu a voz da Duquesa.
- Sim, senhora – a cozinheira respondeu.
Emily continuou escutando gritos após gritos. Logo ouviu o baque da porta fechando. A Duquesa ria histericamente, e foi seu riso que indicou á jovem que ela estava ficando cada vez mais distante.
A garota ligou a lanterna e deixou o sarcófago. Iluminou a origem dos gritos e viu um estranho sapo meio homem todo nu, amarrado de maneira suspensa no ar. Abaixo dele havia uma pirâmide de metal encaixada em seu reto.
- Menina! – disse a criatura, em sofrimento.
- Oh, céus! – Amy exclamou. – O que eu devo fazer?
- Você não pode fazer nada. Isso é muito pesado para que remova sozinha. É você um dos tais fragmentos de Alice que todos estão falando tanto? – o sapo indagou, passando sua fina e longa língua pelos lábios secos.
- Sim. Mas como ficaram sabendo? – a menina questionou.
- A Rainha Vermelha procurou a lagarta! Escute garota, vá antes que a Duquesa volte. Talvez vocês sejam realmente nossa única esperança nesse mundo de horror! Uma nova batalha de xadrez está para começar – a criatura falou.
Emily passou a mão por suas bochechas, enxugando suas lágrimas. Ela estava apavorada.
- Vá! Rápido! A Duquesa logo virá com o outro mensageiro real.
- Mas porque ela está fazendo isso com vocês? – Amy indagou.
- Viemos dar a notícia que ela havia sido convocada para a batalha. Ela não ficou feliz com isso. Pare de conversar comigo e vá, menina! – o sapo disse pouco antes de soltar um intenso berro de dor.
Rapidamente a garota foi até a porta e saiu. Estava em um longo corredor com um tapete vermelho ao chão.
A garota logo reconheceu onde se encontrava através dos quadros que estavam pendurados pelas paredes.



♥ ♠ Continua ♣ ♦


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Notas do autor:

(...)amarrado de maneira suspensa no ar. Abaixo dele havia uma pirâmide de metal encaixada em seu reto.(...)

Essa forma de tortura é chamada de "Berço de Judas" e realmente era muito usada em tempos medievais.


(...)Ela logo iluminou um grande sarcófago entreaberto. Seu interior era repleto de espinhos, mas ela tinha espaço suficiente para se esconder lá.(...)

Sarcófagos eram usados também como tortura. Seus espinhos eram colocados de maneira a não perfurar os órgãos vitais, prolongando a agonia do torturado. Ele podia ser aberto sem que a pessoa dentro dele escapasse, assim, quando fechado novamanete, os espinhos entrariam pelas mesmas feridas antes feitas.

domingo, 7 de março de 2010

Capítulo XXXIV ♥ ♠ O Plano de Despistar ♣ ♦


- Mas ainda tenho que conversar com o gato! Antes que algo possa ocorrer com Bill – Emily disse monótona.
Os outros dois olharam assustados para a garota.
- Emily, acho melhor você não fazer isso. É muito perigoso! – Edgard protestou.
- Talvez. Mas é a vida de uma pessoa que está em jogo. Os riscos que assumo correr por vocês não são os mesmos que eu correria por ele, uma pessoa que mal conheço. Se dissesse o contrário, estaria mentindo, mesmo assim...
- Ele ainda é uma pessoa – Jeanine esforçou-se em dizer, completando o pensamento de Amy.
- Tá, então qual é seu plano? – Ed. indagou seriamente.
- Peguem para mim o livro da “Alice no País das Maravilhas” – Emily pediu, já sabendo que eles estavam com uma versão emprestada da biblioteca a longo prazo.
Sem demora, o garoto levantou-se com muito pesar, pois seu corpo ainda sofria as conseqüências tristes da carta do Grifo. Enxugando o rosto com a costa de sua mão, ele abriu o guarda-roupa e retirou dele sua mochila escolar, onde estava guardado o exemplar. Assim que o retirou de lá, entregou para Emily.
A jovem pegou o livro e o folheou por alguns instantes, parando para ler alguns trechos. Edgard sentou-se na cama e segurou carinhosamente a mão de sua irmã.
- Isso tudo está se tornando muito, muito perigoso – não se conteve em dizer.
- Aqui! – Amy exclamou assim que o rapaz acabara de se pronunciar. – O gato faz sua primeira aparição na casa da Duquesa, mas apenas conversa com Alice depois, quando a menina adentra a floresta, que deve ser a que estávamos assim que saímos do chá da Rainha – ela explicou pouco antes de fechar o livro e entrega-lo de volta para Ed.
- Certo – o garoto falou.
- Então preciso ir para minha casa para ver no mapa em qual lugar da cidade devo tocar o espelho para falar com o gato – ela explicou.
- Mas isso é muito complicado de se fazer a essas horas! Sem falar que nossos pais estão todos bem de olho em tudo que fizermos – Edgard objetou. – É melhor você fazer isso tudo amanhã á tarde – sugeriu.
- Até lá Bill pode já estar morto. Não conhecemos as maluquices desse mundo, só sabemos que ele foi esfaqueado, o corte não pegou nenhum órgão, e mesmo assim ele está piorando de situação lá no hospital – disse, com a voz trêmula.
- Nós precisamos despistar nossos pais, mas como? E como podemos fazer isso a essas horas da noite? – o rapaz questionou.
Logo houve um barulho de carro e uma buzina, que Amy logo reconheceu. O ranger do portão se abrindo e de passos apressados anunciava a chegada dos pais dos garotos. A rapidez com que tudo isso aconteceu apenas deu tempo de Emily falar:
- Eles vão me levar embora, finjo que durmo e durante a noite vou até a locação.
A porta se abriu e a mãe da garota entrou com uma careta muito grave de preocupação e foi dar um longo abraço choroso na filha.
- Filhota, o que está acontecendo? – perguntou.
Os pais passaram algum tempo conversando na cozinha enquanto os garotos apenas se lançavam olhares exaustos. Logo, Amy foi embora e Jeanine com Edgard voltaram ao quarto após despedirem-se da garota no portão.
Ambos se deitaram um encarando o outro e se abraçaram.
- Como isso tudo pode não afetar nossa vida normal – Jeanine questionou.
- Eu estava errado. Mesmo assim será muito bom para eu e para a Carol o encontro de depois de amanhã – contou.
- Em tempos assim, como você pode pensar em namorar? – a jovem tornou a indagar.
- Não estou pensando em namorar, só que eu e ela precisamos conversar melhor sobre o que aconteceu no dia dos cogumelos – explicou.
- Me parece conversa furada – a garota retrucou.
- É, mas você só diz isso porque não foi com você que aconteceu isso – Edgard disse, com tom de provocação.
Jeanine afastou-se um pouco do irmão para poder encará-lo melhor, enquanto dizia:
- Aconteceu sim. Esqueceu de tudo que lhe contei sobre o Robert, de como entrei no País das Maravilhas?
- Então. Se você tivesse a oportunidade de conversar com ele sem a dúvida de ser o coelho branco ou não, vai dizer que você não iria tirar essa história toda a limpo e perguntar se quem a beijou foi realmente ele ou o coelho – ele retrucou.
- É. Isso é verdade – a irmã concordou. – Ai. Espero que Emily consiga fazer tudo certinho. Me dói muito pensar em você, ela ou a Carol machucados como o Bill – disse tristonha.
- Eu sei. Eu sei – o jovem falou. – Também não quero que nada aconteça a vocês três.
- Ás vezes sinto que isso tudo é um grande sonho e que podemos acordar caindo da cama a qualquer momento – Jeanine pronunciou com os olhos marejados. – Você também sente isso?
- O tempo todo. E torço para que acorde e que tudo não tenha passado de um grande e péssimo pesadelo.
Os dois permaneceram em silêncio por longos mitos até que seus olhos foram ganhando peso.
- Boa noite pato – Jeanine disse com os olhos já fechados e um leve sorriso tristonho na face.
- Boa noite pingüim – Edgard respondeu em tom nostálgico, lembrando dos tempos de criança, época em que os dois tinham se apelidado dessa forma.
Depois de algum tempo ambos dormiram.
Edgard estava com o sono agitado. Ele se movia desesperadamente na cama. O suor começava a escorrer em sua testa e por mais que ele se esforçasse em mente, não conseguia acordar.
Estava sonhando novamente com o tabuleiro de xadrez. Carol estava parada bem ao centro e uma fina voz ecoava por todo o local como um trovão:
- CORTEM-LHE A CABEÇA!
Diversas facas voavam na direção da garota, que chorava desesperadamente. Ao olhar na direção em que o som começou a se propagar, ele viu a silhueta de uma menininha, e atrás dela, uma estranha forma foi surgindo.
A figura revelou aos poucos, enquanto se erguia atrás da criança, um tenebroso par de chifres e asas com o formato igual ás que possuem os morcegos.



♥ ♠ Continua ♦ ♣

segunda-feira, 1 de março de 2010

Capítulo XXXIII ♥ ♠ A Carta às Lágrimas ♣ ♦


Os outros dois garotos chocaram-se pela afirmação de Amy. O rosto de Jeanine logo estava corado e seus olhos começavam a ficar cheios de lágrimas.
- Ele deixou uma carta perto de um tipo de ninho que tinha três ovos dentro – ela explicou, entre soluços.
- Você só pode estar brincando! – a outra jovem disse, já caindo no choro. – Porque isso tudo está acontecendo com a gente? – desabafou.
- E onde está a carta? – Edgard conseguiu indagar assim que o nó choroso de sua garganta se desmanchou.
- Sim – Emily afirmou tristemente entregando o papel amassado para os irmãos.

Queridos amigos estrangeiros.

A rainha descobriu que despistamos o exército dela para salvar vocês, portanto fico triste em dizer que estão vindo me buscar com o auxílio do Jabberwock, então não há como escapar. Não tem como relutar, portanto deixarei essa carta para vocês explicando algumas poucas coisas que o curto tempo que tenho me permite explicar.

Um grifo não precisa de uma fêmea, porém, ele só consegue gerar ovos uma única vez na vida, e deve fazer isso quando sente a morte se aproximando, seus filhos não podem ser criados, portanto eles possuem memória genética, ou seja, com o tempo podem se lembrar de algumas coisas que vivi (as mais fortes). Tenho memória de diversos dos meus antepassados, inclusive de meu tataravô que, aliás, conheceu a meiga Alice, e morreu defendendo-a em um terrível episódio de sua vida.

A Rainha nunca conseguirá pegar o gato, por causa de suas exímias habilidades de locomoção, então creio que nem vai tentar, enquanto ao meu destino, ele já está tristemente selado.

É com muito pesar que me despeço de vocês. Tentei focar vocês em meus pensamentos o tempo todo durante meus últimos momentos de vida, assim, meus grifos com certeza já sentirão simpatia por vocês e assim que nascerem, daqui a uns dois ou três meses, podem ajudar os lendários fragmentos de Alice, caso tudo isso ainda não tenha acabado.

Vou morrer, mas morrerei com honra, pois posso dizer de cabeça erguida que não sucumbi á escuridão do País das Maravilhas, e vocês me trouxeram orgulho de ter existido, pois através de vocês pude fazer alguma diferença em minha existência.

Antes que parta, quero que entendam que a rainha pode não ser a culpada por toda essa maldade, e acredito que ela esteja apenas defendendo seu ponto de vista... Mesmo que da maneira errada, com certeza. A Rainha Branca é tão perigosa quanto sua irmã, porém é mais fraca, já que, apesar de ter feito o primeiro movimento durante a guerra em que tudo foi mudado, ela perdeu a coroa.

Estou explicando isso para dizer a vocês que não há quem governe corretamente o País das Maravilhas, e logo vou dizer para que tomem cuidado, pois caso uma nova guerra comece, um peão que chegue ao outro lado do tabuleiro se tornará uma rainha, portanto vocês ainda tem uma chance de limpar toda a sujeira que foi feita, assim como podem impedir que tudo piore, uma vez que, caso essa coroa caia em mãos erradas, tudo pode desmoronar.

Espero que, pela ultima vez, tenha conseguido ajudar vocês nessa batalha, e lamento não poder acompanhar os acontecimentos que se sucederão. É com lágrimas nos olhos, e com dor no coração que me despeço desses bravos jovens que mergulharam de cabeça em uma batalha, que a maioria das pessoas normais sequer se importaria. Porém vocês são especiais, e sei que minha morte não será em vão.

Com amor,
Grifo

Após lerem à carta, os três garotos permaneceram em silêncio por longos minutos, tristes e chorosos, abraçados. Jeanine soluçava e as lágrimas escorriam em larga escala por seu rosto. Emily já estava mais calma, mas acompanhou a reação dos dois, voltando ao estado em que se encontrava quando acabou de ler o que o grifo escrevera quando estava próxima ao ninho.
- O que podemos fazer agora? – Edgard enfim conseguiu dizer entre choro.
- Vamos fazer o que for preciso para vingar nosso amigo. E mais que isso, eu vou fazer tudo o que sentir vontade para respeitar sua morte. Usarei preto para luto, faremos uma oração o tudo mais o que vier pela minha cabeça, não porque seja certo, mas porque eu sinto que assim estarei respeitando a partida dele desse modo, e me sinto bem assim – Emily chorou.
- Estamos com você – Ed. falou, uma vez que Jeanine nada fazia além de balançar a cabeça positivamente enquanto passava a palma da mão pelo rosto.

♥ ♠ Continua ♣ ♦
______________________________
Nota do autor:
Aviso: Contém spoilers de American McGee's Alice, caso não tenha jogado, não prossiga.
(...)Tenho memória de diversos dos meus antepassados, inclusive de meu tataravô que, aliás, conheceu a meiga Alice, e morreu defendendo-a em um terrível episódio de sua vida. (...)
O grifo está se referindo primeiro a "Alice no País das Maravilhas", e depois cita a morte do grifo em "American McGee's Alice", que apesar de aparecer novamente durante a ultima animação, pode ser considerado uma cria do anterior, levando em consideração essa modificação que fiz.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Capítulo XXXII ♥ ♠ Triste Retorno ♣ ♦



Emily estava novamente na região montanhosa. Ela mal conseguia enxergar com a ventania – que parecia mais forte que outrora. Estava com um medo infinito de cair, e os ventos pareciam a controlar.
Suas pernas se moviam com muito pesar. Ela colocou o braço na frente do rosto para poder ver, e assim encontrou a entrada para a caverna do grifo logo á sua frente. Entrou o mais rápido que o forte vento permitiu.
O lugar parecia morto. Emily olhou para a escadaria, que sumia na escuridão. “O que ou vou fazer agora?” ela pensou, já revirando os bolsos procurando sua lanterna.. Olhou para os lados, e um dos quadros entre a hera da parede, chamou-lhe a atenção.
Ela afastou os ramos da planta e agarrou uma moldura, que carregava dentro de si o desenho de uma lamparina, que brilhava fortemente. “Pensei que era a luz de lá de fora... Agora pelo menos economizo pilhas, sem falar que ilumina melhor que a minha lanterna”. Disse para si.
Com o quadro debaixo do braço, foi descendo as escadarias. Aquele lugar pareceu-lhe mais frio que da ultima vez que o visitara. Mais alguns conjuntos de degraus e logo estava onde haviam encontrado o grifo pela primeira vez, mas nada havia lá.
- Grifo, você está aí? – a menina disse timidamente.
Olhando o lugar, ela observou que havia em espaço em relevo para um quadro do exato tamanho que ela segurava. Para teste, Amy encaixou a figura na saliência, o que fez com que diversos outros quadros de lanternas passassem a iluminar a caverna circular. Isso fez com que Emily visse que, entre duas rochas em um canto, havia um estranho ninho feito de galhos, que se intercalavam firmemente. Dentro deste, haviam folhas secas e ervas, com algo entre, que a garota apenas pôde ver após agitar o conteúdo do ninho.
Eram três ovos. Ovos bem redondos, que mais pareciam bolas de ping pong do tamanho de maçãs.
Assustada, e sem deixar de encarar o chocante desconhecido, ela também viu mais uma coisa no meio das folhas e ervas, e estendeu seu braço para agarrar um grosso papel pardo, escrito com letras muito bem desenhadas.
Era uma carta. Conforme lia, lágrimas corriam pelo rosto de Emily, enquanto ela soluçava. Seus olhos estavam tão carregados que mal podia ler.
Após terminar, uma onda de fraqueza subiu pelas pernas de Amy, o que fez com que ela caísse no chão, aos prantos.
- Gato? Gato? – gritou repentinamente, torcendo para que o animal aparecesse.
Seu plano era o de pedir ao grifo que a levasse até o felino, porém agora não iria funcionar. Sem raciocinar com muita clareza, Emily apenas conseguiu pensar em voltar para sua casa e deixar a conversa com o gato para depois. E assim deixou o espelho ao chão e tocou levemente seu reflexo, segurando a carta já meio amassada na outra mão.
Levantou-se em seu quarto e logo saiu de sua casa, carregando conssigo a carta e o espelho. Corria triste pela rua, na direção da casa de Jeanine. Seu coraçãozinho batia fortemente no peito, tão forte que Amy quase podia ouvir cada batida. Ouviu sua mãe gritando algo, porém não conseguiu distinguir as palavras, apenas corria, sem muito controle de si.
Correu sem parar por volta de vinte quadras, até que chegou ao portão da casa de Edgard e Jeanine.
- JEA! ED? JEAAA! – gritava a plenos pulmões.
Os dois irmãos surgiram, assustados, na porta, seguidos por uma mãe ainda mais assustada ao telefone.
- Emily, o que foi? Sua mãe ligou aqui, está conversando com a minha até agora! – Jeanine disse, abrindo o portão, enquanto a outra jovem respirava ofegante, aos prantos.
Entraram todos. Os garotos foram logo ao quarto da jovem.
- Mãe, traga um copo de água com açúcar para ela – disse Edgard.
Sentada na cama, e com os cabelos acariciados pela amiga, Amy começou a se acalmar. Os dois irmãos logo expulsaram a mãe da conversa, mas sabiam que ela escutava tudo do outro lado, preocupada não só por si, mas pelos pais de Emily também. Como sabiam que ela nada iria entender, conversavam sem hesitação.
- O que aconteceu? O que aconteceu quando você entrou dessa vez? – Jeanine indagou.
Emily chorava e soluçava que mal conseguia falar, porém logo as palavras saíram de sua boca como chicotes e atingiram os outros dois como um forte soco no estômago:
- A Rainha descobriu que o grifo despistou o exército dela. Ela decapitou o grifo.


♥ ♠ Continua ♣ ♦

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Capítulo XXXI ♥ ♠ Decisões, Difíceis Decisões ♣ ♦


- Escuta, Carol. Acho que a gente precisa conversar. Não falamos mais no que aconteceu desde os cogumelos brilhantes e acho que a gente deveria resolver isso – Edgard começou, com um calafrio gélido na barriga, e o coração disparado.
Caroline apenas balançava a cabeça positivamente. O garoto começou a gaguejar, com a voz trêmula.
- Eu gostei de você desde que te vi pela primeira vez. Você é bonita inteligente e...
- Calma. Eu também gostei de você desde a primeira vez que olhei para seus olhos – ela admitiu, o que fez com que as pernas de Edgard fraquejassem.
- Você... Você quer ir comigo no cinema do shopping? – Ed. disse quase atropelando as palavras com o nervosismo.
- Eu nem sei o que falar. Eu acho que isso tudo do País das Maravilhas é grave demais para a gente ficar fingindo que está tudo bem e sair passear como se nada estivesse acontecendo – Caroline explicou.
- A gente não precisa fingir que nada está acontecendo. Só que eu acho que a vida continua, então não podemos viver só em função disso, sabe? – o garoto falou, tímido.
Os dois ficaram se encarando nos olhos por alguns segundos. Seus rostos foram se aproximando e seus lábios se encontrando em um longo e apaixonado beijo, que atraiu a atenção dos outros jovens exceto Natalie, que estava ocupada demais com sua mãe.
Afastaram-se e continuaram se encarando por mais alguns instantes, de mãos dadas.
- Tá. A gente vai. Amanhã vemos os horários do cinema e combinamos de ir – Carol concordou.
Nesse momento a mãe e o pai de Edgard e Jeanine entram pela porta do hospital, ambos com uma feição grave de preocupação. Os dois jovens se soltam e Ed. olha assustado aos pais.
Assim foi chegando o resto, e a confusão estava formada. Foi contada a versão que David sugerira, e assim os pais decidiram entre si que fariam um boletim de ocorrência, porém em geral, todos estavam muito confusos em relação ao que fazer diante daquela situação crítica.
Bill não estava nada bem. A facada da cozinheira não havia atingido nenhum órgão, mas Emily desconfiava de algo que haveria na lâmina.
Com toda aquela confusão, a garota chegou em casa quando já havia anoitecido, e foi logo para seu quarto, onde pegou o celular de uma das gavetas e ligou para o número de Jeanine. Não demorou muito e a outra jovem atendeu:
- Alô?
- Jeanine? – Emily chamou.
- É, sou eu mesma.
- Escuta. Meus pais não vão me deixar dormir na sua casa hoje, com certeza, mas eu preciso voltar para o País das Maravilhas o quanto antes para conversar com o gato – ela explicou.
- Emily, é muito perigoso e você sabe disso melhor do que eu – a garota disse com uma voz muito grave e depressiva do outro lado da linha. – É melhor você não fazer isso sozinha.
- Eu sei. Mas acontece que estou achando que, pelo que o doutor disse, tinha alguma coisa na lâmina da faca da cozinheira – contou. – Então vou lá conversar com o gato para ver se foi isso mesmo que aconteceu e se tem alguma coisa que a gente possa fazer.
- É muito arriscado! – Jeanine choramingou.
- É, mas lembra que o médico disse que Bill estava piorando? – Emily indagou. – Não tem erro. Eu vou, converso com o gato e volto logo em seguida pra gente solucionar isso.
- Amy. Tenha muito, muito cuidado. E assim que voltar, me liga, pelo amor de Deus! – a garota pediu, quase caindo no choro.
- É uma promessa. Até depois – e desligou, antes que Jeanine a convencesse a não ir.
A jovem parou por alguns instantes, olhando para os mapas contrapostos na janela, pensando no estado de Bill, e no fato que ele poderia morrer. Seus olhos marejaram quando ela lembrou de tudo o que acontecera em sua ultima desventura no País das Maravilhas, e no que aconteceria ao colega e qual seria sua conseqüência àquele lugar.
Angustiada, Emily foi até sua mochila e agarrou seu espelho. Pensava em entrar lá mesmo, pois acabaria nas montanhas e pediria ajuda ao grifo para encontrar o gato. Tomada pelo medo, a garota retesou-se a tocar seu reflexo, enquanto Jeanine chorava de preocupação, abraçada á Edgard, em seu quarto.



♥ ♠ Continua ♣ ♦

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Capítulo XXX ♥ ♠ Hospital ♣ ♦


Emily estava saindo da sala do médico, ainda assustada com tudo que lhe havia acontecido, porém seu alívio era o de não precisar engessar seu pé.
A garota mancava por longos corredores de piso acinzentado e paredes verde-azuladas e brancas. O hospital era cheio de portas, e ás vezes, pessoas passavam por ela, algumas com crachá de visitantes e outras vestidas de branco.
Ela desceu dois andarem em um pequeno e apertado elevador, e ainda teve que passar por dois conjuntos de escadas, mas não o fez com muito pesar, pois seu tornozelo já estava muito melhor.
Adentrou um ultimo – e longo – corredor. Ao final, atravessou a porta, visualizando uma imensa sala de espera cheia de cadeiras paralelas a um balcão. Andou até os cinco jovens que aguardavam sentados pacientemente, todos ainda assustados.
Sentou-se na cadeira ao lado de Edgard, que conversava com Natalie, tentando acalmá-la. A outra garota estava aos prantos, chorando sem parar.
- O que vamos dizer para todo mundo? – Amy se indagou.
- É verdade. O que a gente vai falar para as pessoas? – David disse. – Não deveríamos ter vindo para o hospital. Vão fazer muitas perguntas.
Emily suspirou, curvando-se para frente enquanto massageava a raiz dos cabelos com a ponta dos dedos.
- Dizemos que encontramos ele assim na rua. Estava amanhecendo e eu resolvi caminhar com vocês pela praça esse fim de semana. Combinamos pela internet de nos encontrar na frente biblioteca e no caminho a gente resolve ir embora porque torci o pé, e aí encontramos Bill, que só descobrimos o nome por causa do David – ela falou.
- É. Me parece bem plausível. Eu pelo menos acreditaria em uma história dessas, vocês não? – Carol perguntou aos outros, que assinalaram positivamente com a cabeça.
- É, só tem um problema, por que eu nunca falei de vocês para meus pais. Eles vão perguntar – David argumentou.
- Isso é verdade – Amy disse, já começando a raciocinar novamente. – Nos conhecemos há pouco tempo, eu, você e a Natalie, no shopping, aí eu combinei com vocês essa caminhada para apresentar meus amigos.
- É, mas não fica estranho... Uma caminhada para apresentar amigos? – o garoto retrucou.
- Fica, mas somos pessoas saudáveis, então vocês gostaram da idéia de caminhar – Emily devolveu.
David levantou uma de suas sobrancelhas e foi logo dizendo:
- Caminhada para apresentar amigos, e a gente sai sem falar nada.
- Esqueceram! – a garota falou, já irritada. – Esqueceram de contar e pronto!
- Estamos ferrados. Nunca vão acreditar que todos nós esquecemos assim... Todos ao mesmo tempo e a mesma informação – ele continuou.
- Ah, então conte sobre o País das Maravilhas para eles e mostre o espelho como prova! Vão acreditar tanto em você que te dariam um sossega leão e te internariam como louco – Emily cochichou, com uma careta enraivecida.
- Falamos simplesmente que acordamos lá com o Bill esfaqueado, e não nos lembramos de nada. É muito melhor que essa historinha sua e mais difícil da gente se contradizer – David sugeriu.
A garota recostou-se à cadeira, cruzando os braços, enquanto falava:
- É. Pode ser. Mas se começarem a nos investigar achando que isso é uma mentira, quero só ver o que você vai fazer.
- Não acreditariam na verdade, como você mesma disse. No máximo pensariam que somos drogadinhos e boa. Como não somos, então não tem como provarem isso – o garoto disse, franzindo a testa.
Emily levantou-se, bufando.
- Moleque chato! – reclamou, enquanto mancava até o bebedouro.
Edgard olhava ao infinito, maquinando, durante um longo minuto de silêncio, onde somente era possível escutar aos soluços de Natalie. Logo, o garoto pareceu ficar nervoso, por causa de sua expressão, pouco antes de gaguejar para Caroline:
- Carol. Será que não poderíamos conversar em particular?
- Claro – a garota respondeu, já se levantando.
Ele também se levantou, e assim seguiram para outro canto da sala de espera, porto de um grande vaso com uma planta estranha.
Pouco depois a porta se abriu abruptamente e uma mulher com o mesmo jeito e a mesma feição, porém envelhecida, de Natalie, entrou, aos prantos.
- Nat, filhota! Você está bem, graças aos céus! – chorou, correndo na direção da garota.
- Mãe! – ela gritou com o rosto vermelho e todo molhado com suas lágrimas, levantando-se e correndo na direção da mulher, abraçando-a.
Jeanine foi até Emily, que lentamente bebia água em alguns copos descartáveis.
- Amy... Acho que já sei o que perguntar para a lagarta com o novo charuto que vocês acharam – a garota disse, já desacelerando e parando o caminhar do outro lado do bebedouro.
- O que foi? – a outra jovem disse distraída.
- Você não contou no caminho pra cá, que tinham achado outro charuto e tal?
- Sim. É. É isso mesmo – Emily respondeu.
- Então, me veio uma dúvida e acho que já sei o que perguntar para a lagarta – Jeanine contou.
- Eu sabia que você estava quieta demais! Então, qual é a idéia? – a garota sorriu.
- O que será que acontece se um dos fragmentos da Alice morre?




♥ ♠ Continua ♣ ♦

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Capítulo XXIX ♥ ♠ Retorno ♣ ♦


Os jovens corriam e corriam. A respiração de David ofegava muito, e mesmo assim tentava manter o ritimo carregando o colega de infância ferido ao colo.
As árvores começaram a se apresentar mais distantes umas das outras. A floresta foi se tornando menos densa, até que chegassem a uma clareira, onde ao longe podia ser vista uma bela casa com um muro baixo, que mostrava uma pequena horta. Em frente á casa os outros três fragmentos aguardavam em pé.
Ao notar a precariedade do caminhar do grupo, Jeanine, Edgard e Carol correram na direção dos jovens, enquanto David fazia o máximo de força que conseguia, com suas energias já quase esgotadas, tentando se manter em pé.
- Oh, minha nossa! O que aconteceu com vocês? – Jeanine questionou, já ajudando Natalie a carregar Amy,
Edgard correu logo em direção ao outro garoto, tomando Bill em seus braços, enquanto David caiu exausto na grama.
- É uma longa história. Esse lugar está pior que imaginávamos! – Emily afirmou, enquanto Carol levantou e jogou o braço do fragmento caído por cima de seu ombro. – Qual seu plano?
- É o seguinte – começou. – Lembra que o Robert falou que deveríamos quebrar o espelho do coelho? – Jeanine indagou.
- Sim, lembro. – Amy respondeu.
- Então eu pensei em vir aqui na casa do coelho branco procurar pelo espelho, já que ele não estava carregando nada quando foi nos buscar – explicou.
- Mas e se ele estivesse com o espelho em algum bolso do colete? – Emily não se conteve em perguntar.
- É. Tá. Foi um tiro meio que às cegas. Mas acho que a gente só tinha isso de pista para sair daqui – disse, ainda assustada com a situação dos jovens. – E depois, eu estava certa! O coelho entra e sai pela toca na praça, mas ele precisa se ligar ao Robert de alguma forma...
Estavam passando pelo portão de madeira, seguindo um curto caminho de pedras até a porta da casa do caçapo branco. Bill soltou um longo gemido dolorido.
- Brilhante. Então vocês encontraram ou não uma saída? – Natalie interpelou.
- Sim, mas eu achei estranho a rainha não ter mandado os guardas atrás de nós, ou o coelho ter aparecido por aqui – a garota admitiu.
- Eu acho que sei por que os guardas não vieram atrás de vocês – Emily contou enquanto andavam. – A Rainha ficou puta por causa do que eu disse na mesa, então ela mandou os guardas que estavam com ela em minha direção. Como ela pensou que o plano do chá dela era infalível, não se importou em reforçar a segurança.
- É. Faz sentido – Jeanine concordou, atravessando a aconchegante sala e abrindo a porta ao quarto do coelho. – Mas será que nunca imaginariam que o Robert nos contaria sobre o espelho e que viríamos para cá?
- A resposta é simples, minha cara – o gato falou, em cima do guarda-roupa, o que fez com que as jovens se assustassem. – O grifo foi até a rainha e disse que viu vocês correndo na direção da fortaleza das portas. Ela deduziu que pretendiam encontrar uma saída por lá e assim ordenou que seu vasto exército comandado pelo coelho procurasse vocês naquelas bandas.
O felino deu um leve sorriso e saltou para a cama ao lado do guarda-roupa.
- Ela só não teve tempo de avisar o raso exército que levara ao chá, por isso vocês encontraram problemas pela floresta – declarou.
- Tudo aconteceu tão rápido! – Emily disse, de voz ondeada. – Gato, nós vamos voltar analisar tudo o que aconteceu hoje direito, só que agora precisamos ir. Agradeça ao grifo em nosso nome. E somos muito gratos a você também!
- Vão! Vão curar seus ferimentos. Deixamos as respostas para depois... Apenas não se esqueçam que as respostas são muito importantes caso queiram chegar ao fundo disso tudo – o felino disse enquanto ia desaparecendo gradativamente.
Voltaram-se para a cômoda, onde um grande espelho os refletia.
- Vamos logo! – Amy disse, fechando os olhos e tocando seu reflexo.
Ela os abriu. Sem muita demora reparou que estava em frente á biblioteca. O sol surgia lentamente no horizonte, pintando o céu com cores quentes e vivas. Ao olhar para trás, viu os outros fragmentos de Alice olhando para ela, enquanto mancava na direção de um banco para apoiar-se, suspirando.
- Precisamos ligar para o hospital! Agora! – Edgard bradou, segurando o garoto desmaiado e ferido em seus braços enquanto Jeanine olhava fixamente para um orelhão na esquina.



..::Continua::..

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Capítulo XXVIII ♥ ♠ Confronto com a Duquesa ♣ ♦


- Ai meu Senhor, o que é isso? – Natalie gritou entre choro.
- Eu acho que... – Emily começou, aos gaguejos. – Acredito que seja o porco do conto original. Alice encontra ele e acha que é um bebê que a Duquesa carrega, mas logo depois ela percebe que é na verdade um porco...
- Ei, Emily, Natalie, abaixem o tom de voz. – David disse, com a voz fraquejando de medo e susto.
Amy levou as duas mãos á boca e seus olhos arregalaram-se quando ela percebeu que haviam quebrado o silêncio que o gato tanto frisara que fizessem.
Os jovens calaram-se. Era possível, então, ouvir apenas os soluços de Natalie e passos que vinham em sua direção.
Bill começou a apontar a lanterna pela cozinha procurando a origem dos passos. Ele começou iluminando uma pia toda manchada de sangue com pedaços de carne e uma faca ao lado de diversos pratos e copos quebrados.
A respiração dos garotos começou a ofegar de medo.
Ele seguiu com a luz pela extensão da parece até iluminar uma porta, onde uma magra e alta mulher os observava.
Ela continha os cabelos presos e vestia um avental branco – todo manchado com sangue – por cima de seu vestido verde escuro. A estranha segurava algo em sua mão, porém apenas Emily reconheceu ser uma pimenteira. Sua boca começou a abrir, puxando o ar, como se ela retesasse a falar algo, enquanto seus olhos piscavam rapidamente, irritados com a luz.
- MAIS PIMENTA! – gritou, o que vez com que os jovens se assustassem.
- É a cozinheira! Corram! – Amy disse, já a caminho do corredor, sendo levada por Bill.
Natalie e David foram á frente para o corredor, que foi rapidamente atravessado até a sala, onde repentinamente pararam de correr.
- Porque vocês pararam? – Emily gritou, enquanto Bill parava pouco atrás de seus colegas.
A luz da lanterna seguiu pela sala até a escada em espiral, por onde uma mulher, de rosto gordo e enrugado descia.
- Então meu café da manhã chegou? – ela disse com sua enorme boca repleta com dentes pequeninos e afiados.
- Você é a Duquesa? – Amy indagou.
- Eu mesma! – a mulher disse, já ao pé da escada e seguindo na direção dos jovens.
A Duquesa começou a se abanar com um leque que havia em uma de suas mãos, enquanto começou a passar sua estranha e gigantesca língua por seus lábios, deixando-os umedecidos.
- Eu realmente esperava que tivesse que caçar algo para o café e o almoço de amanhã, mas parece que as presas vieram até mim – disse.
Bill deu um longo gemido de dor e caiu no chão, derrubando Emily junto conssigo, atrás dele estava a cozinheira com uma faca ensangüentada em mãos.
- Ai... Ai... Ai... – Bill reclamou, enquanto passou a mão por sua costela direita, onde havia um fundo corte. O garoto começou a chorar ao ver seu sangue escorrendo pelo chão.
Estavam todos boquiabertos com o que acabara de acontecer. Natalie levara as duas mãos á boca em choque, enquanto olhava para o jovem se debatendo em profunda dor.
- Traga a faca até mim! – a Duquesa ordenou.
Sem demora, a outra mulher levou-lhe o objeto.
Emily olhou para Bill, que estava choramingando. Logo em seguida olhou para os outros dois parceiros. Ela fez um sinal para David acenando com a cabeça para ele e logo em seguida na direção do colega ferido. Logo em seguida ela olhou para Natalie e gesticulou levemente com os lábios: “Me levanta e corre ao meu sinal”.
A Duquesa agarrou a faca com sua mão de dedos e unhas anormalmente compridos, e levou o objeto á boca, passando sua língua por toda a extensão metálica para retirar o sangue.
- Hum, muito gostoso! Mas falta algum tempero – disse. – Acho que falta mais pimenta...
A cozinheira foi se aproximando do jovem caído, balançando a pimenteira. Emily esticou o braço até a pequena lanterna caída no chão. Sem demora, a garota ergueu a luz na direção dos olhos da mulher.
- Agora! – gritou.
Rapidamente, David levantou Bill em seu colo, segurando seus ombros com um braço e suas pernas com outro. Natalie correu até Emily e ajudou-a a se levantar, fazendo o mesmo suporte que o garoto fazia a pouco, jogando seu braço por cima dos ombros.
A cozinheira gritou furiosa, esfregando seus olhos com os dedos, enquanto os jovens iam se levantando e fugindo pelo corredor.
- Não os deixe escapar! – a Duquesa berrou, enraivecida.
Rapidamente atravessaram a cozinha e deram com outro corredor, dessa vez curvo, cheio de portas e com diversos quadros estranhos de crianças nuas nas paredes. Os garotos puderam apenas observar as pinturas de relance, pois andavam apressadamente.
Natalie abriu a porta ao fim do corredor com força, adentrando um belo salão cheio de cortinas vermelhas, com grandes janelas, um belíssimo lustre e diversos quadros da mesma natureza dos outros vistos pela casa, além de uma porta para a varanda, que dava para o lado de fora da mansão.
Atravessavam o local com pressa, escorregando pelo piso polido, quando ouviram os passos da cozinheira vindo do corredor.
- Eles estão sujando todo o chão do salão! Você sabe como foi difícil conseguir sangue o suficiente para poli-lo. – ouviram os berros da Duquesa, que ecoavam como trovões pela casa.
Amy apoiou-se na parede enquanto Natalie abria a porta da varanda.
A garota olhou para o chão e notou que o piso realmente era vermelho escuro, o que a deixou mais assustada e afobada a sair de lá.
Logo haviam atravessado a porta da varanda. Avistaram a entrada para a floresta com a ajuda da lanterna e assim corriam com o máximo de velocidade que podiam na direção das árvores. Emily conseguira ainda virar seu rosto a ponto de ver ambas, a Duquesa e a cozinheira, correndo pela grama com dificuldade devido à suas vestes. E ainda avistou o rio, onde teve uma das piores visões de sua vida: diversos corpos estavam jogados em meio às águas. Pelo julgamento da jovem, aqueles pareciam ser corpos infantis, mas ela não teve muito tempo para reparar.
Estavam adentrando a floresta quando Amy viu as duas estranhas mulheres desistirem da perseguição, ofegantes. David também se mostrava cansado por causa do peso de seu colega, que carregava com muito pesar por causa do pé manco que havia pisado na pedra no caminho para a casa da Duquesa.
- Estamos perto da casa do coelho, mantenham o ritimo! – Emily gritou.



♥ ♠ Continua ♣ ♦