Estava muito monótono lá. Uma enfermeira vinha e voltava sempre apressada pelos corredores, sua face grave fitava as garotas cada vez que ela surgia na grande porta dupla de madeira.
Amy tombou sua cabeça nos ombros de sua amiga, e fechou seus olhos, estava exausta.
- Quero que esse pesadelo acabe logo – deixou-se suspirar.
Jeanine nada respondeu, apenas olhava para o infinito, pensativa, até que um baque a despertou. Era novamente a mulher de branco que passava apressadamente pelo corredor.
- Ela me lembra o coelho branco – comentou ao voltar de seus perdidos pensamentos.
- O que?
- Ela me lembra o coelho... Sempre apressada e vestida de branco, correndo para lá e para cá como se estivesse atrasada para seu encontro com a duquesa – explicou.
- Tudo ultimamente me lembra o País das Maravilhas – complementou Emily. – Veja, por exemplo, o chão do hospital – disse.
Jeanine olhou para o chão, surpreendendo-se com pisos frios e lisos, intercalados em preto e branco, que pareciam gritar com o sofrimento das pessoas que ali estavam, perdendo parentes, sendo operados ou em risco de morte, como Bill.
De repente a atenção das garotas voltou-se para a porta de vidro principal do lugar, onde Natalie entrou de supetão.
- Meninas! – ela exclamou parada em frente à porta, minutos antes de correr até as jovens. – Ele está melhor? – indagou já próxima a elas.
- Esperamos que sim – Emily anunciou enquanto sua colega sentava-se ao lado de Jeanine. – Nat, preciso saber algo de você. Que história é essa de você ter levado seu namorado ao País das Maravilhas sem ele ter a marca?
- Pelo visto Bill está bem o suficiente para contar esse tipo de coisa – reclamou a garota.
- Não foi Bill que me contou, eu escutei vocês conversando naquele dia em que tivemos que ir ao chá da rainha – Amy esclareceu, ao mesmo tempo em que Jeanine levantava-se.
- Gente, eu vou ao banheiro lavar o rosto, pelo visto vocês duas têm muito que conversar, com licença – disse, saindo, enquanto seus passos ecoavam pela sala de espera.
- Vamos, me conte essa história direito – Emily pediu.
- Olha, eu não vou lembrar de todos os detalhes aqui... Agora. Mas assim que voltei da viagem, eu coloquei tudo o que vi em meu diário, em detalhes, tudo completo – a menina contou.
- Ah, bem melhor, com o diário você provavelmente foi sincera, comigo você provavelmente esconderia fatos que aconteceram lá – Amy falou em tom sarcástico.
- Que bom que confia em mim – Natalie devolveu.
Emily levantou-se.
- Onde você vai?
- Vou chamar a Jeanine para que possamos buscar seu diário – a garota disse, já andando em direção ao banheiro.
Adentrando o lugar, avistou Jeanine em frente ao espelho, chorando enquanto evitava encarar seu próprio reflexo, fitando a pia à sua frente.
- O que houve? – Amy indagou, enquanto corria abraçar a amiga.
- Eu não consigo olhar para o espelho. Alguma coisa mudou, o País das Maravilhas está mais forte.
- Como você sabe disso? – a jovem tornou a perguntar, enquanto acariciava os cabelos de sua amiga que estava com a cabeça pousada em seu ombro direito.
- Olhe para o espelho.
Emily virou seu rosto vagarosamente, e ao fitar o espelho seu coração disparou, suas pernas falharam e ela deixou escapar um grito de espanto, que se desgrudou involuntariamente de sua garganta.
No reflexo duas garotas se abraçavam, uma era Amy e a outra era Jeanine, porém ao redor delas não havia um sujo banheiro, mas sim um canteiro de flores, que se contorciam em meio a seus caules. Violetas, jasmins, rosas e margaridas, todas com pequenos rostos no lugar de seus miolos, rostos que pareciam gritar de dor.