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sábado, 27 de março de 2010

Capítulo XXXVI ♥ ♠ A Solução ♣ ♦



- Não, não vou passar por tudo aquilo de novo! – Emily disse em tom determinado.
A garota agarrou seu espelho firmemente e foi logo aproximando seus dedos ao seu reflexo. Parou. Escutou algo.
- O que você está fazendo aqui? – a voz do gato surgiu.
- Eu vim atrás de você! Precisamos conversar! E depois do que o pobre sapo me disse, precisamos conversar em dobro – ela cochichou para o ar, procurando pelo felino com sua lanterna.
Mechas de pelo começaram a brilhar em frente á jovem. Ela apontou a luz para aquele ponto, vendo a figura surgir gradativamente.
- Veio em uma péssima hora em um péssimo lugar! Como você veio parar aqui? – ele disse, caminhando ao final do corredor.
Amy começou a seguir o gato.
- Eu não sei. Era para eu supostamente parar na floresta – a garota falou, pensando por alguns segundos. – Droga, esqueci que as escalas não estão corretas! Burra! – xingou-se.
- antes de conversarmos precisamos sair daqui. Vamos pela saída do salão de festas. Lá não tem muro para nos atrapalhar – o gato explicou.
Amy prosseguiu atrás dos passos quietos, lentos e cuidadosos do felino. Sua lanterna iluminava as paredes, onde a garota observava terríveis ilustrações.
Crianças decapitadas com o desenho de um padre ao fundo rindo. Pessoas com agulhas por todo o corpo com caretas doloridas. O corpo de uma jovem sendo pisoteado por uma mulher vestindo um sapato de metal cheio de lâminas em sua parte inferior. Um jovem sendo torturado com seus membros amarrados a uma manivela, com seu corpo todo esticado e uma expressão de dor enquanto outro garoto assiste encolhido em um canto da sala imunda, chorando.
Emily estava ficando cada vez mais chocada com o que via nos quadros. Eles eram tão reais que pareciam se mexer. Ela quase podia ouvir o som daqueles lugares horríveis. Não, ela realmente estava ouvindo. Os quadros estavam mesmo em movimento e emitindo terríveis choros de dor, risos, gritos. Amy levou as duas mãos aos ouvidos e seus olhos ficaram marejados.
- Emily... Emily – o felino chamou, sem ser ouvido. – Emily!
- Oi... O que? O que foi? – ela disse, voltando a si.
- Não olhe para os quadros! Apenas me siga! – afirmou, sério.
A jovem deu uma ultima olhada ao seu redor, vendo apenas quadros bizarros e estáticos. Depois, voltou seu olhar ao gato, que andava e andava por imensos e longos corredores.
Ele abria as portas com um estranho miado longo. E assim prosseguiram até que a garota reconheceu o local que se encontrava.
- O corredor em “L” – deixou-se dizer em voz alta.
Ao longe, ela começou a ouvir gritos e mais gritos abafados pela distancia, o que a assustou, fazendo-a olhar para trás.
- E lá se vai o peixe – o gato falou, miando logo em seguida para abrir a porta ao salão de festas da Duquesa.
Sem demora, os dois atravessaram o local. Amy fazia um careta de nojo a cada passo que dava, e observava os pisos com muito desprazer.
Mais um miado para a porta da varanda e estavam fora.
- Ai! Enfim estamos fora – a jovem disse, aliviada.
Ela não pôde evitar olhar para o rio ao lado da casa, onde a água era totalmente vermelha, e hora ou outra, pedaços de corpos surgiam entre a correnteza a muitas vezes paravam nas margens.
- Pare de olhar Emily! Não se deixe corromper por esse país! – o felino vozeou.
Logo que estavam rodeados por árvores, Amy pôs-se a falar:
- Escuta. Olha só. O Bill, nosso amigo que foi esfaqueado pela cozinheira, está muito mal, muito mesmo, cada hora que se passa ele vai piorando. E eu acho, que tinha alguma coisa daqui do País das Maravilhas naquela ferida, porque não acertou nenhum órgão dele e mesmo assim ele vai piorando e piorando. Nós ficamos de mãos atadas lá – ela colocou.
O gato passou alguns minutos de silêncio, maquinando uma resposta, até que enfim disse:
- Já sei o que é. A Duquesa tem o costume de comer um tipo especial de pimenta aqui do País das Maravilhas. Porém, a casca dessa pimenta é venenosa e deve ser retirada com muito, muito cuidado. Provavelmente a lâmina da cozinheira estava com restos de cascas da pimenta. – ele explicou.
- Mas a duquesa lambeu a lâmina depois! – a garota objetou.
- Sim. Depois que os resíduos ficaram em Bill ela lambeu mesmo. Se bem que depois de tanto comer a pimenta, talvez a casca nem a afete mais – ele definiu.
- Entendo. Em meu mundo também tem dessas coisas. Tipo o baiacu. Mas comer tanto baiacu não deixa as pessoas imunes ao seu veneno – a jovem contou. – Existe uma cura? Algum soro... Sei lá.
- Sim. Existe uma espécie de cogumelo que pode curar seu amigo. Mas pegá-lo pode ser muito perigoso, e não dá para fazer isso sozinho – o gato continuou. – Esse cogumelo somente surge na floresta dos fungos. E ele fica junto aos outros cogumelos brilhantes. Não se pode ir lá sozinho, pois sem outras pessoas junto á você, a conduta simplesmente vai-se embora, então você pode aflorar seus sentimentos de depressão e de desejo de morte. É muito perigoso, pois isso pode ocorrer naturalmente, mesmo com outras pessoas junto mantendo sua conduta.
- Se em grupo, primeiro surgem os desejos á margem, como por exemplo, a atração de Edgard por Carol e de Carol por Ed., depois, vem surgindo os desejos mais profundos, a pessoa diz tudo o que lhe vem à mente. Cada pensamento que surge, é dito. Até que surgem as frustrações.
- Parece ser horrível! – Amy exclamou. – Mas como sabemos qual cogumelo é este? E como Bill deve ingerir ele?
- Vocês saberão que é ele, pois seu brilho é avermelhado, e ele possui diversas manchas brancas em sua cabeça. Apenas faça Bill comer ele. Se ele sobreviver às alucinações, estará curado.
- Quanto tempo ele ainda tem? – ela indagou.
- Em uma semana, o envenenamento chegará a sua fase crítica. Recomendo que procurem pelo cogumelo o quanto antes – o felino sugeriu. – E qual era sua segunda pergunta?
- O que é esse tal de jogo de xadrez que o sapo falou?
O gato olhou para cima, observando as luas vermelhas através dos galhos, suspirou e fechou os olhos antes de responder:
- Uma nova batalha começou. Todos que querem se voluntariar são peões. O resto é convocado.
- Como quando Alice se tornou uma rainha! Mas porque isso vai acontecer?
- A Rainha Vermelha recebeu informações que quem a deixou doente foi A Rainha branca. Comprando cogumelos caros e poderosíssimos da lagarta, além de informações, ela conseguiu se recuperar. Agora quer capturar sua irmã, e levá-la ao seu tribunal – o felino explicou.
- Se uma nova batalha realmente começar, podemos ser peões e se um de nós chegar ao outro lado do tabuleiro viraríamos uma Rainha, e assim poderíamos salvar esse mundo! – Emily exclamou quase aos gritos.
- Já esperava que chegasse a essa conclusão – o gato disse, monótono. – É muito, muito, mas muito perigoso. Não quero que participem, nossas chances são maiores se não o fizerem!
- Mas se um de nós conseguisse a coroa, isso tudo teria um fim! – a garota tornou a dizer.
Os pelos do gato foram sumindo, até ficar seu focinho flutuando no ar.
- Pense muito, muito bem antes de tomar uma decisão drástica como essa – disse, desaparecendo de vez.
Emily ficou algum tempo encarando o nada, apenas pensando, antes de tocar seu espelho novamente.


♥ ♠ Continua... ♣ ♦

domingo, 21 de março de 2010

Capítulo XXXV ♥ ♠ O Mensageiro Real ♣ ♦


Emily vagava pelas vazias ruas noturnas sem companhia alguma. O silêncio tomava conta da cidade.
A garota sentia muita dificuldade em enxergar o caminho à sua frente, pois as ruas estavam apenas levemente iluminadas por postes de uma fraca luz amarelada. Ela ainda carregava consigo a lanterna e as pilhas, as quais salvaram sua vida e as de seus companheiros uma vez.
Em mãos, ela estava com um mapa impresso. Emily havia tirado uma foto dos mapas sobrepostos, e a imprimiu após passar para o computador, tudo no maior silêncio possível para que seus pais não percebessem.
Parou em frente a uma locadora de filmes e CDs de música que havia lá no bairro. Segundo seu mapa, tocando seu espelho naquele ponto, ela estaria logo na floresta do gato.
A jovem se retesou. Seu coração batia rápida e intensamente, tão intenso que Amy podia quase ouvir nitidamente cada pulsação.
De leve, ela foi aproximando o toque ao seu reflexo. Fechou os olhos, amedrontada, até que os dois estivessem juntos. Seus dedos lançaram-se firmes ao espelho.
Um terrível cheiro putrefato invadiu as narinas de Amy. Lentamente seus olhos foram se abrindo novamente, dando lugar a uma terrível expressão de medo. Ela nada enxergava ainda. O local onde estava era tão escuro quanto uma floresta nunca seria, portanto seu plano havia dado errado.
Rapidamente suas mãos buscaram a lanterna, acesa ás pressas. Conforme a luz invadia o local, Emily enchia-se com o pavor. Um intenso arrepio cortou-lhe a espinha.
Aquela parecia ser uma câmara de tortura. Havia diversos maquinários tortuosos por todo o local.
Apavorada, a garota começou a procurar por uma porta. Sua lanterna movia-se ligeiramente através daquele lugar, iluminando, por vezes, diversos objetos pontiagudos, camas de madeira cheias de manivelas, cadeira com espinhos por toda superfície, baldes, estacas...
- A porta! – Emily pegou-se a exclamar. Seus passos foram apressados até a porta, porém ela parou repentinamente. Ouvia grunhidos e gritos que pareciam se aproximar cada vez mais daquele ambiente.
A jovem desesperou-se. Suas pernas estavam amolecidas, e lágrimas corriam por seu rosto. Ela logo iluminou um grande sarcófago entreaberto. Seu interior era repleto de espinhos, mas ela tinha espaço suficiente para se esconder lá.
Sentou-se, abraçou os joelhos e desligou a lanterna. A porta se abriu e uma intensa gritaria começou.
“Eu não deveria ter vindo! Péssima idéia! Péssima idéia!” ela repetia insistentemente em sua mente enquanto os gritos se tornavam cada vez mais altos.
- Não se esqueça de colocar um balde aqui e outro por aqui – ouviu a voz da Duquesa.
- Sim, senhora – a cozinheira respondeu.
Emily continuou escutando gritos após gritos. Logo ouviu o baque da porta fechando. A Duquesa ria histericamente, e foi seu riso que indicou á jovem que ela estava ficando cada vez mais distante.
A garota ligou a lanterna e deixou o sarcófago. Iluminou a origem dos gritos e viu um estranho sapo meio homem todo nu, amarrado de maneira suspensa no ar. Abaixo dele havia uma pirâmide de metal encaixada em seu reto.
- Menina! – disse a criatura, em sofrimento.
- Oh, céus! – Amy exclamou. – O que eu devo fazer?
- Você não pode fazer nada. Isso é muito pesado para que remova sozinha. É você um dos tais fragmentos de Alice que todos estão falando tanto? – o sapo indagou, passando sua fina e longa língua pelos lábios secos.
- Sim. Mas como ficaram sabendo? – a menina questionou.
- A Rainha Vermelha procurou a lagarta! Escute garota, vá antes que a Duquesa volte. Talvez vocês sejam realmente nossa única esperança nesse mundo de horror! Uma nova batalha de xadrez está para começar – a criatura falou.
Emily passou a mão por suas bochechas, enxugando suas lágrimas. Ela estava apavorada.
- Vá! Rápido! A Duquesa logo virá com o outro mensageiro real.
- Mas porque ela está fazendo isso com vocês? – Amy indagou.
- Viemos dar a notícia que ela havia sido convocada para a batalha. Ela não ficou feliz com isso. Pare de conversar comigo e vá, menina! – o sapo disse pouco antes de soltar um intenso berro de dor.
Rapidamente a garota foi até a porta e saiu. Estava em um longo corredor com um tapete vermelho ao chão.
A garota logo reconheceu onde se encontrava através dos quadros que estavam pendurados pelas paredes.



♥ ♠ Continua ♣ ♦


_____________________________

Notas do autor:

(...)amarrado de maneira suspensa no ar. Abaixo dele havia uma pirâmide de metal encaixada em seu reto.(...)

Essa forma de tortura é chamada de "Berço de Judas" e realmente era muito usada em tempos medievais.


(...)Ela logo iluminou um grande sarcófago entreaberto. Seu interior era repleto de espinhos, mas ela tinha espaço suficiente para se esconder lá.(...)

Sarcófagos eram usados também como tortura. Seus espinhos eram colocados de maneira a não perfurar os órgãos vitais, prolongando a agonia do torturado. Ele podia ser aberto sem que a pessoa dentro dele escapasse, assim, quando fechado novamanete, os espinhos entrariam pelas mesmas feridas antes feitas.

domingo, 7 de março de 2010

Capítulo XXXIV ♥ ♠ O Plano de Despistar ♣ ♦


- Mas ainda tenho que conversar com o gato! Antes que algo possa ocorrer com Bill – Emily disse monótona.
Os outros dois olharam assustados para a garota.
- Emily, acho melhor você não fazer isso. É muito perigoso! – Edgard protestou.
- Talvez. Mas é a vida de uma pessoa que está em jogo. Os riscos que assumo correr por vocês não são os mesmos que eu correria por ele, uma pessoa que mal conheço. Se dissesse o contrário, estaria mentindo, mesmo assim...
- Ele ainda é uma pessoa – Jeanine esforçou-se em dizer, completando o pensamento de Amy.
- Tá, então qual é seu plano? – Ed. indagou seriamente.
- Peguem para mim o livro da “Alice no País das Maravilhas” – Emily pediu, já sabendo que eles estavam com uma versão emprestada da biblioteca a longo prazo.
Sem demora, o garoto levantou-se com muito pesar, pois seu corpo ainda sofria as conseqüências tristes da carta do Grifo. Enxugando o rosto com a costa de sua mão, ele abriu o guarda-roupa e retirou dele sua mochila escolar, onde estava guardado o exemplar. Assim que o retirou de lá, entregou para Emily.
A jovem pegou o livro e o folheou por alguns instantes, parando para ler alguns trechos. Edgard sentou-se na cama e segurou carinhosamente a mão de sua irmã.
- Isso tudo está se tornando muito, muito perigoso – não se conteve em dizer.
- Aqui! – Amy exclamou assim que o rapaz acabara de se pronunciar. – O gato faz sua primeira aparição na casa da Duquesa, mas apenas conversa com Alice depois, quando a menina adentra a floresta, que deve ser a que estávamos assim que saímos do chá da Rainha – ela explicou pouco antes de fechar o livro e entrega-lo de volta para Ed.
- Certo – o garoto falou.
- Então preciso ir para minha casa para ver no mapa em qual lugar da cidade devo tocar o espelho para falar com o gato – ela explicou.
- Mas isso é muito complicado de se fazer a essas horas! Sem falar que nossos pais estão todos bem de olho em tudo que fizermos – Edgard objetou. – É melhor você fazer isso tudo amanhã á tarde – sugeriu.
- Até lá Bill pode já estar morto. Não conhecemos as maluquices desse mundo, só sabemos que ele foi esfaqueado, o corte não pegou nenhum órgão, e mesmo assim ele está piorando de situação lá no hospital – disse, com a voz trêmula.
- Nós precisamos despistar nossos pais, mas como? E como podemos fazer isso a essas horas da noite? – o rapaz questionou.
Logo houve um barulho de carro e uma buzina, que Amy logo reconheceu. O ranger do portão se abrindo e de passos apressados anunciava a chegada dos pais dos garotos. A rapidez com que tudo isso aconteceu apenas deu tempo de Emily falar:
- Eles vão me levar embora, finjo que durmo e durante a noite vou até a locação.
A porta se abriu e a mãe da garota entrou com uma careta muito grave de preocupação e foi dar um longo abraço choroso na filha.
- Filhota, o que está acontecendo? – perguntou.
Os pais passaram algum tempo conversando na cozinha enquanto os garotos apenas se lançavam olhares exaustos. Logo, Amy foi embora e Jeanine com Edgard voltaram ao quarto após despedirem-se da garota no portão.
Ambos se deitaram um encarando o outro e se abraçaram.
- Como isso tudo pode não afetar nossa vida normal – Jeanine questionou.
- Eu estava errado. Mesmo assim será muito bom para eu e para a Carol o encontro de depois de amanhã – contou.
- Em tempos assim, como você pode pensar em namorar? – a jovem tornou a indagar.
- Não estou pensando em namorar, só que eu e ela precisamos conversar melhor sobre o que aconteceu no dia dos cogumelos – explicou.
- Me parece conversa furada – a garota retrucou.
- É, mas você só diz isso porque não foi com você que aconteceu isso – Edgard disse, com tom de provocação.
Jeanine afastou-se um pouco do irmão para poder encará-lo melhor, enquanto dizia:
- Aconteceu sim. Esqueceu de tudo que lhe contei sobre o Robert, de como entrei no País das Maravilhas?
- Então. Se você tivesse a oportunidade de conversar com ele sem a dúvida de ser o coelho branco ou não, vai dizer que você não iria tirar essa história toda a limpo e perguntar se quem a beijou foi realmente ele ou o coelho – ele retrucou.
- É. Isso é verdade – a irmã concordou. – Ai. Espero que Emily consiga fazer tudo certinho. Me dói muito pensar em você, ela ou a Carol machucados como o Bill – disse tristonha.
- Eu sei. Eu sei – o jovem falou. – Também não quero que nada aconteça a vocês três.
- Ás vezes sinto que isso tudo é um grande sonho e que podemos acordar caindo da cama a qualquer momento – Jeanine pronunciou com os olhos marejados. – Você também sente isso?
- O tempo todo. E torço para que acorde e que tudo não tenha passado de um grande e péssimo pesadelo.
Os dois permaneceram em silêncio por longos mitos até que seus olhos foram ganhando peso.
- Boa noite pato – Jeanine disse com os olhos já fechados e um leve sorriso tristonho na face.
- Boa noite pingüim – Edgard respondeu em tom nostálgico, lembrando dos tempos de criança, época em que os dois tinham se apelidado dessa forma.
Depois de algum tempo ambos dormiram.
Edgard estava com o sono agitado. Ele se movia desesperadamente na cama. O suor começava a escorrer em sua testa e por mais que ele se esforçasse em mente, não conseguia acordar.
Estava sonhando novamente com o tabuleiro de xadrez. Carol estava parada bem ao centro e uma fina voz ecoava por todo o local como um trovão:
- CORTEM-LHE A CABEÇA!
Diversas facas voavam na direção da garota, que chorava desesperadamente. Ao olhar na direção em que o som começou a se propagar, ele viu a silhueta de uma menininha, e atrás dela, uma estranha forma foi surgindo.
A figura revelou aos poucos, enquanto se erguia atrás da criança, um tenebroso par de chifres e asas com o formato igual ás que possuem os morcegos.



♥ ♠ Continua ♦ ♣

segunda-feira, 1 de março de 2010

Capítulo XXXIII ♥ ♠ A Carta às Lágrimas ♣ ♦


Os outros dois garotos chocaram-se pela afirmação de Amy. O rosto de Jeanine logo estava corado e seus olhos começavam a ficar cheios de lágrimas.
- Ele deixou uma carta perto de um tipo de ninho que tinha três ovos dentro – ela explicou, entre soluços.
- Você só pode estar brincando! – a outra jovem disse, já caindo no choro. – Porque isso tudo está acontecendo com a gente? – desabafou.
- E onde está a carta? – Edgard conseguiu indagar assim que o nó choroso de sua garganta se desmanchou.
- Sim – Emily afirmou tristemente entregando o papel amassado para os irmãos.

Queridos amigos estrangeiros.

A rainha descobriu que despistamos o exército dela para salvar vocês, portanto fico triste em dizer que estão vindo me buscar com o auxílio do Jabberwock, então não há como escapar. Não tem como relutar, portanto deixarei essa carta para vocês explicando algumas poucas coisas que o curto tempo que tenho me permite explicar.

Um grifo não precisa de uma fêmea, porém, ele só consegue gerar ovos uma única vez na vida, e deve fazer isso quando sente a morte se aproximando, seus filhos não podem ser criados, portanto eles possuem memória genética, ou seja, com o tempo podem se lembrar de algumas coisas que vivi (as mais fortes). Tenho memória de diversos dos meus antepassados, inclusive de meu tataravô que, aliás, conheceu a meiga Alice, e morreu defendendo-a em um terrível episódio de sua vida.

A Rainha nunca conseguirá pegar o gato, por causa de suas exímias habilidades de locomoção, então creio que nem vai tentar, enquanto ao meu destino, ele já está tristemente selado.

É com muito pesar que me despeço de vocês. Tentei focar vocês em meus pensamentos o tempo todo durante meus últimos momentos de vida, assim, meus grifos com certeza já sentirão simpatia por vocês e assim que nascerem, daqui a uns dois ou três meses, podem ajudar os lendários fragmentos de Alice, caso tudo isso ainda não tenha acabado.

Vou morrer, mas morrerei com honra, pois posso dizer de cabeça erguida que não sucumbi á escuridão do País das Maravilhas, e vocês me trouxeram orgulho de ter existido, pois através de vocês pude fazer alguma diferença em minha existência.

Antes que parta, quero que entendam que a rainha pode não ser a culpada por toda essa maldade, e acredito que ela esteja apenas defendendo seu ponto de vista... Mesmo que da maneira errada, com certeza. A Rainha Branca é tão perigosa quanto sua irmã, porém é mais fraca, já que, apesar de ter feito o primeiro movimento durante a guerra em que tudo foi mudado, ela perdeu a coroa.

Estou explicando isso para dizer a vocês que não há quem governe corretamente o País das Maravilhas, e logo vou dizer para que tomem cuidado, pois caso uma nova guerra comece, um peão que chegue ao outro lado do tabuleiro se tornará uma rainha, portanto vocês ainda tem uma chance de limpar toda a sujeira que foi feita, assim como podem impedir que tudo piore, uma vez que, caso essa coroa caia em mãos erradas, tudo pode desmoronar.

Espero que, pela ultima vez, tenha conseguido ajudar vocês nessa batalha, e lamento não poder acompanhar os acontecimentos que se sucederão. É com lágrimas nos olhos, e com dor no coração que me despeço desses bravos jovens que mergulharam de cabeça em uma batalha, que a maioria das pessoas normais sequer se importaria. Porém vocês são especiais, e sei que minha morte não será em vão.

Com amor,
Grifo

Após lerem à carta, os três garotos permaneceram em silêncio por longos minutos, tristes e chorosos, abraçados. Jeanine soluçava e as lágrimas escorriam em larga escala por seu rosto. Emily já estava mais calma, mas acompanhou a reação dos dois, voltando ao estado em que se encontrava quando acabou de ler o que o grifo escrevera quando estava próxima ao ninho.
- O que podemos fazer agora? – Edgard enfim conseguiu dizer entre choro.
- Vamos fazer o que for preciso para vingar nosso amigo. E mais que isso, eu vou fazer tudo o que sentir vontade para respeitar sua morte. Usarei preto para luto, faremos uma oração o tudo mais o que vier pela minha cabeça, não porque seja certo, mas porque eu sinto que assim estarei respeitando a partida dele desse modo, e me sinto bem assim – Emily chorou.
- Estamos com você – Ed. falou, uma vez que Jeanine nada fazia além de balançar a cabeça positivamente enquanto passava a palma da mão pelo rosto.

♥ ♠ Continua ♣ ♦
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Nota do autor:
Aviso: Contém spoilers de American McGee's Alice, caso não tenha jogado, não prossiga.
(...)Tenho memória de diversos dos meus antepassados, inclusive de meu tataravô que, aliás, conheceu a meiga Alice, e morreu defendendo-a em um terrível episódio de sua vida. (...)
O grifo está se referindo primeiro a "Alice no País das Maravilhas", e depois cita a morte do grifo em "American McGee's Alice", que apesar de aparecer novamente durante a ultima animação, pode ser considerado uma cria do anterior, levando em consideração essa modificação que fiz.